Crónicas de Terra e Raízes

Crónica & Opinião por Hélder Farinha

Técnico de Turismo Cultural

Os 115 anos da Implantação da Républica em Portugal, celebram-se no próximo 5 de outubro. Este marco tão importante na nossa história, que implementou além de uma mudança de regime e de símbolos, uma série de reformas para o país, contou com a colaboração e iniciativa de muitos ourienses daquela época.

Os republicanos de Ourém, como Artur de Oliveira Santos, estavam entre os mais participativos e ativos do país, movimentando-se bem entre os notáveis do Partido Republicano. Natural e residente da então Vila Nova de Ourém, era funileiro de profissão, mas também jornalista e uma das figuras marcantes da história local, tendo sido “Administrador do Concelho”.

Em 1907, surgiu em Vila Nova de Ourém, o Centro Democrático Republicano com aproximadamente 60 sócios. Dali saíram as principais figuras locais, que administraram o concelho durante o início do século XX. Os oureenses destacavam-se pelas suas iniciativas de tal forma, que João Chagas publica um artigo no jornal “O Mundo”, de 28 de março de 1908, onde envia uma “calorosa saudação aos republicanos de Ourém”, pois segundo ele, ser-se republicano em Ourém não era o mesmo que noutro ponto do país. Com isto se queria dizer que apesar do dinamismo do movimento oureense, o mesmo foi-se espalhando de forma muito lenta e gradual, devido ao contexto social e cultural do concelho, marcadamente rural, religioso e com índices de analfabetismo acima dos 80%.

Artur de Oliveira Santos foi testemunha da revolução. No dia 2 de outubro já se encontrava na capital, onde esteve com o líder António José de Almeida. O sinal chega a Ourém ainda a 3 de outubro, quando envia um telegrama a Álvaro Mendes, com a senha: «o tio entra amanhã no Hospital». No dia 6, é emitido um ofício desde Ourém ao Governador Civil de Santarém, dando conta do cumprimento da ordem de hastear a bandeira da República, referindo a tomada de posse da Comissão Municipal Republicana e, ainda que a Vila se encontra calma, solicita-se forças de segurança por precaução. No seu regresso de Lisboa, no dia 7 de outubro de 1910 e praticamente sem descansar, Artur de Oliveira Santos terá içado a bandeira republicana no Castelo de Ourém, consagrando a vitória do novo regime. Descreveu os acontecimentos vividos a 5 de outubro como “um dos momentos mais felizes da vida”, confessando que “durante trinta e duas horas não dormi e pouco comi”.

Existe atualmente uma rua com o nome de Artur de Oliveira Santos, o “Memorial à República”, da autoria do artista Roberto Chichorro, e a antiga casa de família é hoje um dos núcleos expositivos do Museu Municipal de Ourém. As exposições e iniciativas na Casa do Administrador, são uma boa oportunidade para conhecer esta realidade com 115 anos de história e ainda desconhecida por muitos.

(VÁRIOS. A Implantação da República em Vila Nova de Ourém – Ourém, 2010; VÁRIOS. 25 olhares sobre a I República – Lisboa, 2010; NEVES, José Poças das. Artur de Oliveira Santos – Um Republicano Idealista – Lisboa, 2020)