Entrada na Universidade: um sonho que começa com obstáculos reais
Crónica por Afonso Alves
«Quando a vida parece difícil, os corajosos não se deitam e aceitam a derrota; em vez disso, eles estão ainda mais determinados a lutar por um futuro melhor.»
Rainha Elizabeth II (1926–2022), a mais longeva soberana britânica e líder suprema da Igreja Anglicana, reinou de 1952 até à sua morte. Liderou o Reino Unido e a Commonwealth com singular estabilidade, dever e presença histórica ao longo de mais de setenta anos.
Entrar na universidade é anunciado como a janela para uma nova vida, um sonho repleto de possibilidades e descobertas. No entanto, para milhares de jovens portugueses, esse sonho chega acompanhado de uma realidade dura e desafiadora, repleta de dúvidas e barreiras que vão muito além dos livros. Entre a excitação natural de iniciar uma etapa transformadora e as dificuldades palpáveis do dia a dia, surgem perguntas cruciais: como equilibrar o estudo com um custo de vida que dispara? Onde encontrar um quarto digno que caiba no orçamento mensal? Como preservar a saúde mental num ambiente que exige dedicação total?
As propinas, o material escolar, a alimentação, os transportes… O peso de todas estas despesas diárias ultrapassa com facilidade o alcance de muitas famílias. A pressão financeira transforma-se num ruído constante que atrapalha a concentração, mina a motivação e, muitas vezes, ameaça o próprio sonho académico. Para muitos, o início da universidade não é apenas um salto para o futuro, é um cálculo contínuo entre euros e cêntimos, uma luta constante para que cada decisão não se traduza num aperto ainda maior no orçamento familiar.
Um quarto condigno surge como uma das maiores fontes de ansiedade. O mercado de alojamento, com preços exorbitantes e condições frequentemente precárias, rejeita grande parte dos estudantes. As residências universitárias públicas, por sua vez, não têm capacidade para acolher todos que delas necessitam. Esta instabilidade corrói a serenidade essencial para enfrentar os desafios académicos e força adaptações que prejudicam o bem-estar físico e emocional. Uma nuvem densa de incerteza, que paira sob o início desta nova etapa.
Em suma, entrar na universidade deveria apenas significar estudar, aprender, crescer. Porém, para muitos jovens em Portugal, representa também encarar obstáculos económicos que testam a resiliência dos estudantes muito antes do primeiro exame. Surge, então, uma pergunta fundamental e urgente: como podemos garantir igualdade de oportunidades quando o acesso ao ensino superior ainda depende de fatores alheios ao mérito e à vontade?
