Schrödinger, o Futebol e a Política
Ana Freire
A semana passada esteve repleta de grandes jogos decisivos, no futebol e na política. Dei por mim a pensar nas semelhanças com o Gato de Schrödinger, que está morto e vivo ao mesmo tempo! Schrödinger (1887-1961) foi um físico teórico austríaco, Nobel de Física em 1933, pelas suas contribuições no campo da mecânica quântica.
Que gato tinha Schrödinger? Não era como os outros gatos? Falamos de um gato fictício, a partir do qual ele explicou a teoria quântica. Na sua genialidade, Schrödinger idealizou um gato dentro de uma caixa fechada; enquanto não abrimos a caixa, apenas se pode assumir um estado relativamente ao gato: está morto e vivo ao mesmo tempo. Na teoria quântica, a condição do gato só se resolve quando abrimos a caixa e observamos o estado do animal. Schrödinger foi um génio! A sua equação é linda! Se tentarmos esquecer os pesadelos que nos traz e as lágrimas que derramamos para a perceber, sim, é linda!
Vamos agora substituir o gato por um clube de futebol, com temporadas cheias de altos e baixos. Entramos no universo paralelo do “Futebol de Schrödinger”. Quando a temporada começa todos os clubes parecem estar, simultaneamente, prontos para conquistar o primeiro lugar. Dependendo de quando “abrimos a caixa”, se a meio da época ou mais para o final, haverá diferenças nas probabilidades de quem se sagrará campeão. Como um bom gato quântico, o futebol faz os fãs viverem na incerteza!
Continuando neste jogo, vamos assumir agora que a “Caixa Cheia de Incertezas” corresponde às urnas onde se encontram os boletins de voto: voltamos a um estado de sobreposição. Até abrirmos a caixa, tudo está indefinido. A vitória ou a derrota depende de uma série de variáveis: promessas de campanha, discursos, escândalos, debates, tudo contribui para uma condição onde, no fundo, nada está realmente decidido até que as urnas sejam abertas. Analisar a política à luz da mecânica quântica revela um estado de incerteza absoluto. Em cada eleição, o futuro político do país parece estar num estado “vivo-morto” político. A política traz ainda mais imprevisibilidade que o gato! Tudo pode mudar num piscar de olhos.
Nestas analogias, o futebol e a política estão em caixas fechadas, tal como o gato na experiência teórica de Schrödinger. A opinião pública funciona como o observador, tentando adivinhar se “o gato” está vivo ou morto. Comentadores, jornalistas, analistas e até cidadãos comuns dizem saber o que vai acontecer, quando, no fundo, ninguém sabe. Só no momento da verdade, quando a caixa se abre, é que se tem a certeza. Até lá, há uma realidade múltipla de possibilidades, podemos fazer previsões e tentar entender os padrões mas, no fundo, nada é realmente certo.
Ora se de política nada percebo e de futebol nem tento, na Física Quântica não estou melhor! Quando penso que aprofundei conhecimentos de mecânica quântica, ficando muito satisfeita com a minha proeza, concluo que afinal cada vez percebo menos!