AGIR DE MODO ÉTICO É PARA TODOS 

Tanto no passado como hoje, a ética é invocada como norma do reto agir. No entanto, atualmente, ela é apontada facilmente como exigência para a atuação dos outros na vida social, económica ou política, motivando suspeitas e sendo usada como arma de arremesso para pôr em causa e condenar os adversários. Estará a fazer-se uso correto da mesma, com a consciência de que agir eticamente é compromisso que diz respeito a todos? 

A ética é um conjunto de princípios, valores e normas de comportamento pessoal e coletivo assentes na dignidade e vocação da pessoa humana e na sua natureza social. “Ensina-nos a viver bem praticando o bem” (ACEGE). Envolve por isso a liberdade e a responsabilidade, a justiça e o respeito e cooperação com os outros em vista do bem comum e de cada um. Na luta por alcançar os seus próprios interesses, as pessoas não podem comportar-se retamente, sem ter em conta os demais. O meu bem é inseparável do bem dos outros. Isso põe em movimento o amor, o sentido de justiça, a corresponsabilidade, a solidariedade e a compaixão. 

É bom que na sociedade cresça a consciência da necessidade de que todos se movam nos seus comportamentos por princípios e valores éticos. Não é apenas para quem está na vida pública ou nos serviços do Estado. É para os outros como para mim. É para todos! Exigir isenção e igualdade no tratamento a todos implica que eu mesmo tenha essa convicção e aja assim em relação aos outros. Desta forma, é que se constrói uma sociedade justa, verdadeiramente democrática e solidária, onde todos tenham vez e voz. 

Exigindo e promovendo o comportamento ético e transparente na vida social, estamos a prevenir os fenómenos de corrupção, favoritismo, discriminações, aproveitamento ilícito de fundos e subsídios públicos, não olhar a meios para atingir os próprios fins e outras ações que levam a injustiças e desigualdades entre os cidadãos. É este tipo de comportamentos que faz germinar e florescer o populismo político que põe em causa uma vida democrática justa e respeitadora de todos os cidadãos. Estes, sentindo-se insatisfeitos e, de algum modo, ignorados e maltratados pelos governantes e serviços públicos, reveem-se em líderes bem-falantes que, na verdade, poem o dedo nas feridas e dão eco ao que muitos sentem e pensam.  

É preciso então continuar a melhorar a vida de todos, mesmo todos, na sociedade democrática, através de políticas que promovam verdadeiramente o bem comum, com atenção aos mais frágeis e desfavorecidos. Não bastam para isso os subsídios. Requerem-se, antes de mais, relações, ação e acompanhamento das pessoas vulneráveis, de forma respeitosa, paciente e persistente com elas, segundo as suas capacidades e ritmos. Tudo e sempre em ordem a promover a integração de todos e a sua participação social. 

Para quem é verdadeiramente cristão e quer viver como tal, o seu agir ético inspira-se no exemplo e nas palavras de Jesus. Ele deixou aos seus discípulos o mandamento de se amarem uns aos outros como ele próprio os amou (cf Jo 15, 12). Assim como Jesus, é preciso passar pelo mundo “fazendo o bem” e tratar sempre os outros, quaisquer que eles sejam, como gostaríamos que nos tratassem a nós. Está aqui o segredo de uma vida social eticamente fundamentada e conformada. O outro tem a mesma dignidade e direitos que eu. Somos responsáveis uns pelos outros.  É assim que podemos fazer uma sociedade melhor. 

Padre Jorge Guarda 

21.5.2025