A BOA E A MÁ POLÍTICA
Presentemente, a política em Portugal mais parece um combate de boxe do que a arte de bem governar o país. Parece que se aposta mais em insultar e bater nos adversários do que em tentar cativar o povo com atitudes e ideias mobilizadoras que tragam desenvolvimento e bem-estar para todos. Confesso que me impressionam mal as campanhas eleitorais, pelo estilo e as mensagens que se tenta passar, sobretudo pelo apoucamento dos adversários e a exaltação de si próprios: “eu é que sou bom, os outros não prestam”. É um modo de agir que não honra os adversários nem respeita os concorrentes na luta política. Como se pode confiar em quem assim se comporta, para governar Portugal?
Este modo de agir faz-me lembrar as palavras de Jesus, quando diz: «A quem, pois, compararei os homens desta geração? A quem são semelhantes? Assemelham-se a crianças que, sentadas na praça, se interpelam umas às outras, dizendo: ‘Tocámos flauta para vós, e não dançastes! Entoámos lamentações, e não chorastes!’ Veio João Baptista, que não come pão nem bebe vinho, e dizeis: ‘Está possesso do demónio!’ Veio o Filho do Homem, que come e bebe, e dizeis: ‘Aí está um glutão e bebedor de vinho, amigo de cobradores de impostos e de pecadores!’ Mas a sabedoria foi justificada por todos os seus filhos.» (Lc 7, 31-35).
Há uma má política: aquela que se centra nas próprias ambições de poder e para tal promove a divisão, recorre ao insulto e à mentira, em que se procura denegrir os adversários e não se respeitam nem se aceitam as propostas dos adversários. Cultiva-se a contraposição em vez da busca do debate sério para partilhar e confrontar posições em ordem à busca do melhor bem para o país, de modo a gerar consensos que abram portas para a concertação e cooperação para melhorar a vida de todos, com atenção aos mais frágeis e desfavorecidos.
É preciso procurar e cultivar “a boa política”, de que fala o Papa Francisco na sua encíclica “Fratelli Tutti, sobre a fraternidade e a amizade social”. Vale a apena ler todo o capítulo V, com o título “A política melhor”. Ele convida a “revalorizar a política, que é uma sublime vocação, é uma das formas mais preciosas de caridade, porque busca o bem comum” (FT 180). Nesse sentido, como a alma e motivação de toda a política, aponta o amor ou a caridade social que se manifesta no empenho “por construir um mundo melhor” (FT 181). E sublinha: enquanto hoje se pretende “reduzir as pessoas a indivíduos facilmente manipuláveis por poderes que visam interesses ilegítimos”, a “boa política”, pelo contrário, “procura caminhos de construção de comunidade nos diferentes níveis da vida social, a fim de reequilibrar e reordenar a globalização para evitar os seus efeitos desagregadores” (FT 182).
O capítulo referido termina com a indicação de algumas perguntas que se deve fazer quem se dedica à política, se realmente deseja orientar a sua atividade pelo “amor político”: “Vista desta maneira, a política é mais nobre do que a aparência, o marketing, as diferentes formas de maquilhagem mediática. Tudo isto semeia apenas divisão, inimizade e um ceticismo desolador incapaz de apelar para um projeto comum. Ao pensar no futuro, alguns dias as perguntas devem ser: «Para quê? Para onde estou realmente apontando?» Passados alguns anos, ao refletir sobre o próprio passado, a pergunta não será: «Quantos me aprovaram, quantos votaram em mim, quantos tiveram uma imagem positiva de mim?» As perguntas, talvez dolorosas, serão: «Quanto amor coloquei no meu trabalho? Em que fiz progredir o povo? Que marcas deixei na vida da sociedade? Que laços reais construí? Que forças positivas desencadeei? Quanta paz social semeei? Que produzi no lugar que me foi confiado?» (n. 197). Esta é a boa política.
Que nesta campanha eleitoral e na votação a que todos, como cidadãos, somos chamados nos orientemos pelo empenho numa “boa política”, naquela que serve realmente ao bem comum de todos os cidadãos, num abertura e cooperação universais.
Padre Jorge Guarda
7.5.2025