Inteligência artificial
Cada época tem a sua moda e nos dias de hoje só se fala em Inteligência Artificial. Está em todo o lado.
O sinal imediato anda na palma das nossas mãos, com os novos telemóveis a tentar compreender ou adivinhar o que pretendemos fazer. Falamos para eles e eles (mais ou menos) entendem a linguagem natural. “Liga o despertador para amanhã às sete” e o telemóvel percebe. Bom… por vezes ainda se baralha e não tem assim tanta inteligência como isso. Por vezes as respostas da Inteligência Artificial são claramente idiotas, é preciso desconfiar sempre.
Depois há aquela nova função exasperante das imagens sintetizadas por algoritmos digitais, que nos torna a todos em habilidosos artistas. Pedimos uma imagem de flores ou gatinhos e a Inteligência Artificial em segundos produz uma “foto” muito credível do tema. Por vezes também acontece perceber tudo ao contrário, mas com paciência e melhorando o comando o resultado vai ficando mais conforme. A arte, neste caso, não é tanto fazer bem um desenho, a arte é dar a ordem com clareza.
As imagens geradas por Inteligência Artificial já se tornaram uma praga, sobretudo porque há muita gente que as confunde com fotografias reais e se comove com retratos de coisas que não existem. Sobretudo aqueles meninos pobrezinhos muito talentosos, a esculpir peças geniais a partir de lixo. Deixem-me ser claro, aquilo não é uma foto, é uma pintura digital. Aquele menino e aquela escultura nunca existiram.
Há também uma certa dose de vaidade ou de saudosismo, quando pegamos numa foto real e mandamos criar uma versão mais perfeita de nós mesmos, quando éramos mais novos, ou como se fôssemos uma estrela de cinema ou da música. É a aparência e a ilusão a sobreporem-se à realidade.
Mas agora a praga ganhou novas proporções, alastrou-se e contaminou-se de profundo mau gosto. Por estes dias, correu mundo a imagem digital de um presidente que se vê como Papa. Uma espécie de criança mimada aos comandos de uma nação, a impingir-nos as suas fantasias. Provavelmente o objetivo principal de uma mente vaidosa nem sequer foi tornar-se ou fingir-se Papa. Ou rei da Gronelândia, imperador do Canadá. O objetivo é simplesmente ter um grande impacto, usar o escândalo mediático para conseguir mais popularidade na TV e nas redes sociais. Ter “gostos”, “visualizações” e “partilhas” é um novo critério do sucesso, nem que seja necessário fazer figuras completamente bizarras. É caso para dizer que o ridículo se alimenta a si próprio até aos limites do mau gosto.
Não é que estes comportamentos narcisistas sejam uma novidade. A História está cheia de maus exemplos de pessoas a quem foram confiadas responsabilidades e se mostraram loucos e insensatos. A diferença é que esperávamos que o progresso da Humanidade nos tivesse trazido a tempos de maior sensatez. E esperávamos que em democracia as maiorias produzissem cada vez menos casos bizarros de idiotas no poder.
Como as escolhas dos governantes são confiadas ao voto da maioria, seria de esperar que milhões de votos fossem suficientes para fazer uma seleção ideal. Com as naturais divergências ideológicas, evidentemente, ora mais centradas no indivíduo ora mais centradas no social, mas sem entregar a responsabilidade a comportamentos paranóicos. Seja de presidentes que se imaginam Papas, seja de deputados com a tara de roubar malas dos passageiros.
É preciso olhar para as eleições com responsabilidade e perceber em que tipo de indivíduos nos propomos confiar. Num mundo dominado pelos equívocos da Inteligência Artificial, precisamos desesperadamente de inteligência humana para fazer escolhas acertadas.
JF