A ORAÇÃO FAZ-NOS BEM
Nos meus encontros com pessoas, pergunto frequentemente a jovens e adultos se fazem oração. Ouço bastantes vezes resposta negativa. Constato, na realidade, que há muitas pessoas, mesmo cristãs, que não rezam. Percebo que entendem a oração como o dizer certas fórmulas que aprenderam de cor e isso deixou de lhes interessar. Algumas, por falta de prática, já nem o sabem fazer. Mas, se lhes pergunto, se nunca pensam em Deus, aí a resposta é mais afirmativa. De certo modo, esta é a sua forma de oração, embora esporádica, ao sabor das circunstâncias da sua vida. Há assim muitos que não sentem necessidade de oração nem a consideram relevante na sua vida. Julgam-se, no entanto, pessoas de fé, mesmo não a praticando com a oração.
Muitos outros rezam todos os dias e em vários momentos. Sentem que isso é importante para si e os ajuda a viver melhor. Encontram nela luz, força, paz e muitos outros benefícios. Praticam-na tanto nos bons como nos maus momentos e sempre lhes faz bem. Ao fazerem-na, sentem que não estão sós, experimentam a relação e proximidade de Deus, a sua companhia e ajuda. Não se ficam pela recitação repetida de fórmulas. Entram numa relação vital, filial e confiante.
Pode-se rezar por fé, para a reforçar, mas também sem ela, movido pelo desejo de a obter. Será que a oração tem realmente efeitos sobre a nossa vida? No passado domingo, ouvimos na liturgia o exemplo de Jesus (cf Lc 9, 28-36). Ele praticava muito a oração. Num desses momentos, com apenas 3 discípulos, estes veem alterar-se o aspeto do seu rosto e as vestes ficarem resplandecentes. Ficam tão entusiasmados que querem ficar ali mais tempo, pois nunca tinham visto assim o seu Mestre. Como sucedeu a Jesus, quando se entra numa relação íntima com Deus através da oração profunda, a pessoa é tocada e transformada. A sua visão e consciência da vida adquirem uma luz nova e coragem para a enfrentar, nas lutas que comporta.
Jesus fazia oração, mandou os seus discípulos rezar e ensinou a fazê-lo, para se relacionarem com Deus na condição de filhos. Garante: “Tudo o que pedirdes na oração, acreditai que já o recebestes, e assim sucederá” (Mc 11, 24).
Se quisermos saber de oração e conhecer exemplos inspiradores, perguntemos aos santos e a outras figuras inspiradoras. Eles sabem do que falam pela sua própria experiência de vida. Santa Teresa de Lisieux dizia: “A oração é um impulso do coração, um simples olhar para o céu, um grito de amor e gratidão na provação e na alegria; é algo enorme e divino que dilata o nosso íntimo e une a Jesus”. S. Pio de Pietralcina afirmava: “A oração faz desaparecer a distância entre o homem e Deus.” E ainda: “Arme-se com a ‘arma’ da oração, e terá mais força no combate diário.”. Por seu lado, S. Agostinho diz assim: “Uma lágrima se evapora, uma flor murcha, só a oração chega ao trono de Deus.” A oração, portanto, liga-nos a Deus e obtém os seus dons.
É importante e útil fazer oração? Alguns pensadores afirmam-no sem qualquer dúvida. Eça de Queirós escreveu: “Quem não conhece o poder da oração, é porque não viveu as amarguras da vida!”. E o escritor francês Victor Hugo afirma: “Há pensamentos que são orações. Há momentos nos quais, seja qual for a posição do corpo, a alma está de joelhos.” E o grande Mahatma Gandhi ensinava: “Orar não é pedir. Orar é a respiração da alma. Como o corpo que se lava não fica sujo, sem oração se torna impuro.” Por seu lado, o poeta indiano Tagore testemunha: “Nas minhas orações não peço a Deus que me proteja dos perigos, mas que me faça destemido para encará-los. Não imploro para que me retire a dor, mas que me dê um coração capaz de conquistá-la”. S. Francisco de Assis deixou-nos esta sapiente oração da tranquilidade: “Senhor, dai-me força para mudar o que pode ser mudado. Resignação para aceitar o que não pode ser mudado. E sabedoria para distinguir uma coisa da outra”.
A oração autêntica, que não seja mera repetição apressada de fórmulas ou o mandar recados a Deus, é uma relação íntima com Deus. Pressupõe o silêncio para O escutar, a meditação, o desabafar do coração e o acolhimento da luz e força espiritual que Ele concede a quem, com fé, acolhe no seu íntimo os seus dons. Ela põe-nos em relação e comunhão com Deus, faz-nos entrar no nosso íntimo e chegar ao fundo de nós mesmos, o coração, de onde brota a liberdade, a criatividade e o amor.
A oração faz-nos bem. Não percas, em cada dia, essa oportunidade de beber, na nascente divina que há dentro de ti, a água que te sacia a sede e o fogo que te dá calor.
Padre Jorge Guarda