E agora? 

Eleições concluídas, resultados quase apurados, com os dois maiores partidos praticamente empatados no número de votos e no número de deputados… o que virá a seguir? 

Se o Chega entrasse diretamente para as contas, o caso era simples, maioria de direita. Mas “não é não” e, como tal, temos de olhar para os resultados sem Chega. 

Os eleitores não escolhem governos, isso já sabemos. A regra é assim. Os eleitores limitam-se a escolher (num processo, aliás, pouco claro) os deputados. Votamos por círculos eleitorais, o que é um disparate histórico. Por exemplo, no nosso círculo eleitoral, dos 251 mil votos, mais de 47 mil não serviram para nada. Quem, no círculo de Santarém, votou num dos três partidos que elegeu deputados, deu o tempo por bem aproveitado; quem escolheu outra força política perdeu o seu tempo a ir votar. Um em cada cinco votos não elegeu ninguém, fica sem representante e não conta para nada. E isso é profundamente injusto. Os círculos eleitorais são um empecilho à verdadeira democracia, um sistema antiquado em que parece que ninguém quer mexer, com medo de se escaldar. 

Os eleitores não escolhem governos, escolhem deputados. E os deputados ou aceitam ou rejeitam os governos.  

Com o primeiro governo de António Costa, recordemos, foi assim mesmo. Passos Coelho enquanto vencedor foi primeiro chamado a formar governo por Cavaco Silva, mas foi rejeitado pela maioria de esquerda na Assembleia da República, conhecida como “geringonça”. E António Costa, em minoria, governou o mandato completo. 

Agora aparentemente, nem à esquerda nem à direita há condições para formar uma maioria consistente. Porque está lá o Chega, com muita pressa de tomar conta do pedaço. Mas se “não é não”, o Chega vai ter de se limitar aos seus 18% de votos e ao número de deputados que elegeu e terá de moderar o ímpeto de mandar no PSD e em Portugal inteiro. 

A AD pode perfeitamente governar em minoria, com base em propostas sensatas. Não precisa de tentar acordos políticos de bastidores. Se as políticas forem boas e consensuais, os eleitores saberão avaliar rigorosamente quem recebeu um mandato para servir os interesses do país e colocar de lado quem usa o mandato para servir outros interesses. 

E agora? Agora é o tempo dos políticos se mostrarem adultos. 

JF