O engenho de transformar o ferro velho em arte

Carlos Sousa, uma mente inquieta num corpo de artista

Quem passa pela estrada principal, na localidade de Casal do Castanheiro, em Ourém, dificilmente consegue ignorar a “galeria de arte” a céu aberto que distingue o jardim da casa de Carlos Sousa. As esculturas em ferro, impõem-se na paisagem. Despertam a atenção e a curiosidade daqueles que as observam e lhes oferecem uma história. A história que quiserem, diz o artista que as criou

CARLA PAIXÃO

Se recuar no tempo, Carlos Sousa, agora com 56 anos, ainda consegue vislumbrar o menino do Casal do Castanheiro que gostava pouco da escola e passava o tempo a inventar e a construir brinquedos, como guitarras ou pistolas de cowboys. Era assim que se distraia, num tempo em que a vida corria mais devagar e a rua era lugar de encontro e espaço de criação.

“Sempre fui muito engenhocas. Dava um pontapé numa pedra e imaginava logo o que dali podia sair. Ideias nunca me faltaram”, partilha Carlos Sousa, entre risos, enquanto recorda as “dores de crescimento” por conta do seu “pensamento desassossegado”, nem sempre compreendido, pelo próprio ou pelos outros.

“Tenho uma mente inquieta. Com muitos pensamentos cruzados. Até certa altura, foi difícil lidar com isso — não conseguia concentrar-me, a escola era um problema, sentia-me sempre aquém dos outros”, recorda Carlos.

Durante anos, viveu com o sentimento de ser “menos capaz”, carregando uma autoestima frágil. Só recentemente descobriu que a raiz de tudo estava no diagnóstico de déficit de atenção: “Agora sei que o meu cérebro funciona de forma diferente”. E, talvez seja por isso que é tão criativo. “Tenho muitas dificuldades em sentar-me sossegado a ler um livro. Mas, tudo o que sejam trabalhos manuais é comigo. Isto é mesmo assim, todos temos talentos diferentes”.

(Texto na íntegra no jornal Notícias de Ourém de 1 de Agosto de 2025)