Eleições
É um alívio chegar ao dia de eleições, depois de longas semanas de campanhas eleitorais cheias de cenas repetitivas e mais ou menos vazias de sentido.
Compreendo que é inevitável passar por esta fase e que o efeito teatral de breves curiosidades é irreprimível. Um partido que se limitasse a divulgar ideias seria completamente ofuscado em tempos televisivos e mediáticos por aqueles que optam pelos pequenos dramas e encenações. Uma volta de bicicleta, de barco ou de mota, um jogo, uns beijinhos populares ou um bailarico tem pouca substância política, mas tem um efeito poderoso a divulgar a marca. É garantida a presença com destaque nas notícias do dia e nas tricas de redes sociais. Por isso, compreendo a ideia.
É mais ou menos inevitável que a campanha seja percorrida por gestos fúteis, momentos preparados para as câmaras de TV. Afinal de contas estamos na era a imagem, da mensagem curta, do ritmo acelerado da comunicação. A quantidade de canais de TV, de redes sociais, estações de rádio, páginas de jornal, todas a competir por um pouco de atenção dos leitores e espectadores, ditam esta vertigem que não nos dá tempo para pararmos em algum assunto.
A discussão de opções de médio ou mesmo de curto prazo para nos organizarmos enquanto sociedade passa para segundo plano. Aliás, esse debate se torna impossível, porque muitos partem para esta discussão com fervor clubístico em que as ideias só são boas quando são dos “nossos” e as mesmas ideias apresentadas pelos “outros” já passam a ser péssimas.
Mesmo os factos não se conseguem impor perante convicções. Muitas vezes perante as provas há quem invente conspirações a dizer que a informação está toda manipulada e que a verdade está escondida algures, fora da nossa vista e tapada por evidências. Cada um acredita apenas naquilo que encaixa nas suas expectativas.
De facto, não posso deixar de me sentir cansado de tanto alarido e ruído. Sobretudo porque estas eleições em concreto me pareceram prematuras e correm o risco de não trazerem nada de substancialmente novo na distribuição de lugares do Parlamento. Acompanhando as várias sondagens, não se prevê nenhuma grande reviravolta, talvez apenas uma ligeira clarificação.
Gosto de eleições e acho a democracia o mais equilibrado sistema de organização política, mas, como muita gente, preferia que o sistema se autoregulasse de forma mais eficaz, que os mandatos não fossem interrompidos por alinhamentos de interesses questionáveis, numa espécie de Totoloto em que os partidos fazem pequenas apostas na esperança de conseguirem grandes ganhos. O meu receio é que dentro de pouco tempo se regresse à pequena política e volte tudo à casa de partida.
As recentes moções de censura e de confiança pareceram apenas isso: apostas de casino.
Seja como for, as eleições estão aí. Votamos, como é nosso direito e nossa obrigação… e seguimos em frente.
JF