O Tabu Trans
Por Eva Gomes
O final do mês de Março é marcado por um dia especial. No dia 31 celebra-se o Dia da Visibilidade Trans, assinalando o reconhecimento e a consciencialização para a luta pela visibilidade de todas as expressões de género.
Desde 2003 que Portugal dedica o 31 de Março para as pessoas Trans, apesar da data ter sido reconhecida internacionalmente apenas em 2008. Estávamos à frente de muitos países nesta questão.
A verdade é que Portugal tem feito um ótimo trabalho no que toca ao reconhecimento de pessoas trans. Desde 2011 que é possível alterar o género e nome em documentos oficiais, sem ser necessário realizar qualquer cirurgia de transição. A terapia de conversão sexual foi proibida em 2024, garantindo que este tipo de prática abusiva e desumana não causasse mais vítimas. Mas será que estamos realmente tão avançados como acreditamos estar?
Quem convive diariamente com pessoas trans sabe que a realidade está longe de ser otimista. Os acessos à saúde, nomeadamente a procedimentos de transição de género, são demorados e dispendiosos. Recentemente o governo português decidiu excluir do currículo do ensino um guia que promovia a inclusão de crianças e jovens trans e não-binários, no contexto escolar.
A ignorância, a desinformação e o medo do desconhecido levam a ser cometidos estes ataques contra a dignidade humana. Algo que me deixa sempre espantada é esta mistificação do “bicho de sete cabeças” que são as pessoas trans. São pessoas. Nada mais. Pessoas que só querem viver a sua vida em paz, recebendo o mesmo respeito que os outros. Não se identificam com o “género biológico”, como os conservadores lhe gostam de chamar, e é essa a única diferença. Não há agendas secretas, só pessoas que vivem a sua vida como eu, ou como o leitor.
Talvez, na perceção de alguns, esteja demasiado revoltada. No entanto, convivo com esta realidade todos os dias. Vejo a dor daqueles que mais prezo, por receberem comentários desagradáveis, por usarem o nome errado, pela rejeição. Não há um dia que não tema o futuro, que tema que ver uma vida tão linda a ser criminalizada, por pura ignorância e desrespeito pela vida humana.
Por isso, o dia 31 de Março é uma data que deve de ser relembrada e protegida. É um grito de luta e de defesa dos direitos humanos, um lembrete que ninguém está a salvo da tirania do Homem ganancioso.