IDENTIFICAR SINAIS DE ESPERANÇA 

Vivemos tempos de grande apreensão ao nível mundial, que afeta igualmente o nosso país e invade as nossas vidas. Esta circunstância e muitos acontecimentos adversos abalam a nossa esperança e o horizonte do futuro pessoal, familiar, social e eclesial. Quando nuvens negras e ameaçadoras nos envolvem, podemos continuar a esperar que o sol volte a brilhar e a encher de luz, calor e energia as nossas vidas? Virá algo de novo que nos dê alegria e esperança, desperte o nosso entusiasmo e mobilize os nossos esforços comuns para construirmos um mundo melhor? A Palavra de Deus garante-nos essa esperança. 

Em tempo de exílio, quando o seu povo estava sob o domínio estrageiro, oprimido e longe da sua pátria, o profeta Isaías dirige aos israelitas a palavra de Deus para criar neles esperança e os animar. Comunica-lhes esta promessa e interpelação, que revelam a proximidade e a compaixão de Deus: “Olhai: vou realizar uma coisa nova, que já começa a aparecer; não a vedes?” (Is 43, 19). Para esperar a nova intervenção de Deus, seria preciso deixar para trás a memória dos “bons velhos tempos” e abrir-se ao futuro com esperança. Deus promete continuar presente e ativo no mundo, fazendo novas maravilhas em favor dos seus fiéis, abrindo caminhos não andados e criando coisas novas. Para o Israel do exílio, seria a libertação, o regresso à pátria e a reconstrução do país. 

Há pessoas que vivem muito do passado e outras que confiam quase somente no presente, aproveitando ao máximo as novidades que chegam às suas vistas e às suas mãos. Concentram-se mais nelas do que nas memórias do antigamente. É verdade que as nossas vidas decorrem no equilíbrio necessário entre as experiências do passado e as exigências de construir o futuro. Vivemos de umas e de outras, partilhando com as novas gerações o que recebemos e construímos com elas o que há de vir. Para enfrentarmos com coragem e esperança o futuro, precisamos de identificar os sinais novos, o que nos é dado e que prenuncia um horizonte promissor. 

Se esta atenção aos sinais novos é importante para todos, é-o ainda mais para os fiéis católicos e para a Igreja. O Papa Francisco põe grande esperança no sentido de fé do “santo povo fiel de Deus”. Por isso, desencadeou o processo sinodal, para que todos se empenhem juntos em escutar o Espírito Santo e identificar os sinais de Deus que indicam o caminho a seguir. Criou espectativas, convidou a pôr-se a caminho e deseja que este prossiga, precisamente após a assembleia sinodal em Roma, no passado mês de outubro. O mesmo se está a fazer na nossa diocese de Leiria-Fátima. Não é fácil nem rápido verem-se resultados, como sabemos. É preciso, no entanto, perseverar no caminho juntos. 

Na Diocese de Leiria-Fátima, está em andamento a “transformação pastoral” que envolve a criação de unidades pastorais, pondo várias paróquias, párocos e fiéis a trabalhar juntos. Este processo levou à mudança de quase todos os párocos e, agora, ao esforço criativo de identificar passos comuns para dar nova vida às comunidades cristãs e ao testemunho do Evangelho, aproveitando e suscitando o empenho ativo e corresponsável de fiéis leigos. Neste clima de inovação, no último sábado, realizou-se a peregrinação a Fátima num novo modelo e com grande adesão de jovens, mais de meia centena dos quais da Unidade Pastoral de Ourém. Também nesta e na paróquia, estamos empenhados no mesmo caminho de inovação, como vai acontecer na visita pascal às famílias, envolvendo grupos de crianças com as respetivas catequistas. São certamente sinais novos que nos dão esperança. 

Também na sociedade, precisamos de identificar sinais novos que nos mobilizem para sermos criadores de esperança para todos. Entre esses sinais estão as múltiplas iniciativas de partilha, solidariedade e cooperação em muitas causas. É no dar as mãos e no aproximar dos corações que podemos melhorar o nosso mundo, tornando-o mais justo, fraterno e autenticamente democrático. Este é o horizonte do caminho de Deus que Jesus Cristo nos veio abrir, quando deixou aos discípulos o seu mandamento: amai-vos uns aos outros como eu vos amei, como eu vos fiz, fazei-o vós também. É por aqui o nosso caminho de esperança. 

Padre Jorge Guarda 

9.4.2025