A ORAÇÃO É TAMBÉM AÇÃO SOCIAL E POLÍTICA
Por Padre Jorge Guarda
Há pouco mais de uma semana, recebi uma mensagem sobre um artigo de um espanhol sobre a oração publicado num jornal, suscitando invulgar interesse. Sob o título “Rezo por ti”, entre outras coisas, Miguel Ángel Robles escrevia: “Rezar é ter outros nas tuas orações e estar nas orações de outros – o que é muito mais do que estar apenas na sua memória. (…) Existirá maior plenitude do que saber que uma mãe, um irmão, um filho ou um amigo deseja que Deus te proteja, te dê saúde, te ilumine, te ajude, te acompanhe e esteja sempre contigo? Rezar é ter fé. Ter fé na vida, nas pessoas, nos teus amigos, nos teus filhos, nos teus pais, em Deus. Rezar é um superpoder que nos predispõe para o bem. Rezar é acreditar e ser praticante de um mundo melhor.”
Pode haver quem reze centrado apenas em si e nos seus, num intimismo que busca em Deus conforto e força. Outros, porém, rezam com o coração alargado aos demais e ao mundo. Na liturgia do passado domingo, ouvimos estas palavras comprometedoras do apóstolo S. Paulo a Timóteo: “Recomendo, antes de tudo, que se façam preces, orações, súplicas e ações de graças por todos os homens, pelos reis e por todos os que estão constituídos em autoridade, a fim de que levemos uma vida serena e tranquila, com toda a piedade e dignidade. Isto é bom e agradável diante de Deus, nosso Salvador, que quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade” (1Tm 2, 1-4).
A oração pode e deve ser solidária, missionária e universal. Ela envolve os outros num horizonte que vai além da proximidade até à universalidade. Rezamos por todos e entre eles incluímos também quem está investido em autoridade política ou em outras responsabilidades para o bem da humanidade. É que Deus ama a todos e quer que ninguém se perca ou seja impedido de chegar á verdade. A oração por todos é assim um contributo nesse sentido. Não apenas de pedido, mas também de louvor e ação de graças, de reconhecimento e gratidão.
Em cada celebração da Eucaristia, há a oração dos fiéis ou universal, em que se fazem preces por todos os homens. Os formulários mudam de domingo para domingo e em variadas circunstâncias, mas a abrangência universal está sempre presente. O exemplo talvez mais completo é o da oração da Sexta-Feira Santa. Nela reza-se sucessivamente pela Igreja, pelo Papa, por todos os ministros e pelos fiéis, pelos que se preparam para o batismo (catecúmenos), pela unidade dos cristãos, pelos judeus, pelos que não creem em Cristo, pelos que não creem em Deus, pelos governantes e pelos atribulados. Para todos se deseja e pede a proteção divina, o bem, a verdade, a prosperidade, a segurança, a justiça, a saúde e a paz.
O que se faz em cada celebração comunitária deve igualmente caracterizar a oração pessoal, familiar ou de grupo. Alargamos o coração e nele incluímos todas as pessoas e as suas necessidades. A oração bem feita ajuda-nos, fortalece-nos e compromete-nos numa vida solidária, missionária e no empenho pelo bem comum. Não pedimos somente a Deus que faça ou nos dê o que precisamos para termos um mundo melhor, mais justo e fraterno. Impele-nos a fazer o que nos compete para que tal aconteça. Quem reza com verdade e se deixa penetrar por ela não só não pensa somente nos seus interesses, mas abre-se à solidariedade com os demais, procura ser honesto e íntegro, não corrompe nem permite que o façam a si próprio. Deus torna-se o seu modelo, inspirador, guia e ajuda nos comportamentos e responsabilidades.
A oração torna-se assim também uma nobre ação social e política que sustenta o trabalho pelo bem comum de todos e de cada um.