PADRE JOSÉ GALAMBA: VISIONÁRIO E EMPREENDEDOR

Por Padre Jorge Guarda

No passado domingo, foi apresentado em Ourém o livro de Pedro Moniz, “Monsenhor José Galamba de Oliveira, um homem à frente do seu tempo”. Este ouriense nascido em 1903 e falecido em 1984, foi um padre visionário e empreendedor, que, ainda em vida, teve reconhecimentos eclesiásticos e civis. Já aos 19 anos, quando estudava em Roma, definia estes propósitos para a sua vida: contribuir para o levantamento moral da juventude, o levantamento intelectual do clero e o levantamento das condições miseráveis das classes operárias. A esta visão acresceria o envolvimento na imprensa regional e a difusão da mensagem de Fátima pelo mundo além. A fé cristã, o apostolado e o testemunho da mesma foram sempre o seu motor de vida.

A educação da juventude foi a primeira grande causa pela qual trabalhou até morrer. Veja-se: foi professor no Liceu de Leiria, na Escola do Magistério Primário e na de Enfermagem, trabalhou no escutismo e fundou a Escola de Formação Social Rural de Leiria, que hoje tem o seu nome. O seu grande objetivo nesta área era a formação integral da pessoa, transmitindo e incutindo nos alunos princípios éticos, morais e religiosos. Queria preparar crianças e jovens para a vida e não somente para virem a ter uma profissão.

Outra aposta foi na formação do clero. De facto, foi professor de teologia e diretor espiritual no Seminário, deixando nos alunos e futuros padres algumas marcas da qualidade do seu ensino e do seu testemunho e vivência pessoal. Um dos seus alunos testemunha que ele era “um professor que partia da vida concreta e buscava as respostas atempadas, fundamentadas, pedagógicas e oportunas, sempre com base bíblica, para o mundo concreto em que vivemos” (A. Gonçalves).

A área social e as respostas para as situações mais precárias levaram-no a trabalhar na prisão-escola de Leiria, a organizar cursos de formação doméstica para as raparigas e para podadores de árvores, promover colónias de férias para crianças e a criação e acompanhamento até à sua morte da já mencionada Escola de Formação Social Rural, ainda a funcionar. Esta preparou muitas pessoas para serem educadoras sociais, que trabalham em escolas, creches, lares, prisões, hospitais e centros de dia para idosos. Tudo para melhorar a qualidade de vida das pessoas mais vulneráveis.

O Padre José Galamba, que depois seria nomeado cónego e ser-lhe-ia atribuído o título honorífico de monsenhor, deu um contributo fundamental para a difusão da mensagem de Fátima e o desenvolvimento inicial do processo que levou à beatificação e canonização dos pastorinhos Francisco e Jacinta Marto. Deve-se a ele e à sua perspicácia a influência junto do bispo de Leiria para intimar a mais velha dos videntes, Lúcia dos Santos, para escrever as suas memórias das

aparições de que foi testemunha e dos seus primos Francisco e Jacinta. Acompanhou a visita da imagem peregrina a muitos países em vários continentes, escreveu artigos e livros sobre a mensagem mariana e os protagonistas das aparições e dirigiu jornais e revistas. Fátima e a devoção mariana estiveram muito fortemente no seu coração e no seu trabalho.

A imprensa foi igualmente uma sua paixão. Chegou a sonhar a criação de um jornal “para as gentes de Ourém e seu termo” que poderia ser denominado “A Cruz”, “um nome bem português e bem cristão, que desse claramente a entender a sua missão e vocação”. Aquele nome aludia à primitiva denominação ouriense de “Aldeia da Cruz”. Veio depois a criar “A Voz do Domingo”, como jornal da Diocese, em 1933, mantendo-se como diretor do mesmo até 1974. Para o imprimir, criou a tipografia “Gráfica de Leiria”. Aquele jornal seria a sua grande tribuna, onde escrevia e difundia a mensagem cristã e a sua visão sobre o país e a sociedade, como comunicador e pedagogo. Não ficou por aqui, pois escreveu em várias outras publicações. E empenhou-se também na publicação na Bíblia Monumental Ilustrada, em 7 volumes.

Não sei se já existe ou não, mas o padre José Galamba merecia que o seu nome fosse dado a alguma rua de Ourém. Seria uma justa iniciativa de reconhecimento, contribuindo também para honrar e preservar a sua memória. Seria igualmente desejável um estudo mais aprofundado da vida e obra de ilustre ouriense membro do clero da Diocese de Leiria-Fátima, redigindo-se uma biografia mais substancial.