Artistas mostraram diferentes imagens da Senhora da Piedade
Por Padre Jorge Guarda
Durante o mês de agosto, na igreja matriz de Ourém, por motivo da festa de Nossa Senhora da Piedade, esteve patente uma exposição coletiva de obras de arte alusivas à padroeira da paróquia, sob o tema: “Piedade: da dor à esperança”. Participaram com uma ou mais obras os artistas ourienses Ana Oliveira, Conceição Mendes, Bruno Ferraz, Nuno Gaivoto, Gabriel Lagarto e Helena Perdigão. A promoção e organização deve-se a Gonçalo Cardoso. A exposição suscitou interesse e apreciações muito positivas, a julgar pelas dezenas de registos no livro de visitas. Estão de parabéns, portanto, pelo seu trabalho tanto osartistas como o organizador e quantos lhes deram apoio.
Visitei e contemplei a exposição várias vezes. Que se me oferece dizer sobre ela? Tendo presente a imagem da padroeira Nossa Senhora da Piedade e o tema proposto, cada artista trabalhou de modo próprio e original. O resultado foi uma variedade de obras e expressões que nos oferecem diferentes olhares sobre a “pietá” e nos causam sensações únicas, elevando o nosso espírito das dores da vida, as nossas e as dos que nos são semelhantes, à esperança, o que nos permite viver e lutar por melhores dias, quer para nós quer para os demais seres humanos. Maria com o filho morto representa inúmeras mães e muitas outras pessoas que sofrem situações semelhantes ainda hoje. É o sofrimento humano de tanta gente que necessita de conforto e esperança. A imagem da Mãe do Céu que acolhe, segura com ternura no colo o seu filho morto é inspiradora para nós, sustém e alimenta a nossa esperança no presente e no futuro da nossa vida. Na verdade, as obras de arte ajudam-nos, iluminam-nos e elevam-nos.
Esta foi a experiência da mística italiana Chiara Lubich, fundador do Movimento dos Focolares, ao contemplar a Pietà de Miguel Ângelo, no Vaticano. Escreve: “Madonna” bela de Michelangelo, estás naquela capela da basílica de São Pedro, e cada vez que te olho pareces mais bela. Passam-se dias, anos, séculos, e homens do mundo inteiro e de todas as épocas acorrem para te ver e tu deixas no espírito deles algo de sublime e suave. Dás a quem te admira uma sensação de felicidade: parece que tocas o âmago de toda alma humana, e este raio celeste, que parte de ti, atinge o centro imortal do homem, de todo homem, de ontem, de hoje, de sempre. Quando as tragédias do viver humano me entristecem, quando a televisão, com seus programas, me humaniza, mas não me eleva, quando o jornal com as suas crónicas sempre iguais me deixa melancólica, quando a dor me atormenta a alma e o corpo, olho-te e me sinto aliviada. Há algo em ti que não morre”. E continua, na sua meditação: (…) Hoje, ao contemplar-te, “Madonna” bela, pensava: quão sublime e divino é o efeito de uma obra de arte. Testemunha a imortalidade da alma, porque se o objeto plasmado não morre, é arte justamente por ser imortal – isto é, não passa enquanto existir – quem te fez não pode morrer. Pareceu-me então que a arte se elevasse a alturas incalculáveis e a beleza fosse,
assim como a verdade e a bondade, matéria-prima do reino celeste que nos espera, e tive a impressão de que, sem saber, os verdadeiros artistas têm uma missão apostólica. (…) Em todo o caso, basta que o artista plasme na obra a sua alma. E a alma do artista, ainda que seja ateu, é imortal.”
A beleza não está apenas fora de nós, mas também dentro, sendo evocada pelas obras de arte ou pela natureza que contemplamos. O poeta libanês Khalil Gibran escreveu: “A beleza não é um desejo, mas um êxtase. Não é boca sedenta nem mão vazia estendida, mas antes um coração de fogo e alma maravilhada. (…) A beleza é a vida quando a vida descobre seu santo rosto. Mas vós sois a vida e sois o véu. A beleza é eternidade que se contempla num espelho. Mas vós sois eternidade e sois espelho” (O Profeta, p. 102-103). Os artistas têm o talento para nos despertar riquezas interiores e de nos abrir horizontes que nos animam e dão esperança e coragem.
Parabéns aos artistas que participaram nesta exposição. Merecem o nosso reconhecidos pelo seu talento e pelo bem que fazem à humanidade com as suas obras, também no plano espiritual.