AMBIÇÃO PELO DINHEIRO LEVA À CORRUPÇÃO 

Quase todos os dias, somos assaltados por notícias sobre a corrupção e sucedem-se as investigações sobre acusações e suspeitas de aproveitamento de dinheiros públicos ou privados. Há muita gente a ambicionar ter mais e mais e para isso compra ou vende favores e mete a mão para agarrar o que não lhe pertence. Quem se deixa levar por essa ambição nunca se satisfaz e quanto mais tem, mais quer ganhar. Já o advertia o livro bíblico do Eclesiastes: “Aquele que ama o dinheiro nunca se saciará do dinheiro, e aquele que ama a riqueza, a riqueza não virá ao seu encontro.” E concluía: “Também isto é ilusão”. Quem se deixa seduzir pelo dinheiro não olha a meios e põe toda a sua esperteza e criatividade para ter sempre mais.  

Choca-nos este alastrar da corrupção. Muitos servem o dinheiro como a um patrão que os domina e escraviza. Fala-se hoje muito de ética, mas parece que só serve para atirar aos outros e não para inspirar e regular os nossos comportamentos na relação com os outros e com a sociedade. Não liga nada à ética e que falta o interesse e o empenho em viver de modo ético.  Muitos não têm princípios nem valores éticos e morais na sua relação com o dinheiro. Julgam-se com direito a fazerem o que quiserem, desde que fique em segredo. A sua ambição sedu-los e cega-os.  

Na verdade, a ambição pelo dinheiro leva à corrupção, ao roubo, à falsidade e à mentira, à injustiça, à exploração dos outros e a todo o tipo de males. E com isso se corrompe a dignidade e a vida da pessoa, que acaba por contaminar outros no mesmo comportamento imoral e ilegítimo. O apóstolo S. Paulo assim afirmava: “os que querem enriquecer caem na tentação, na armadilha e em múltiplos desejos insensatos e nocivos que precipitam os homens na ruína e na perdição. Porque a raiz de todos os males é a ganância do dinheiro. Arrastados por ele, muitos se desviaram da fé e se enredaram em muitas aflições. (1 Tm 6, 9-10). Não é precisamente isto que está a acontecer nos dias de hoje? A Palavra de Deus, por seu lado, ensina: “Vale mais o bom nome que grandes riquezas; a estima é melhor do que a prata e o oiro” (Prov. 22,1). 

É verdade que todos precisamos de dinheiro. Sem ele, vive-se mal. Possuído e usado de forma reta e equilibrada, seja pouco ou muito, permite-nos viver com dignidade, liberdade e independência. É, por isso, obrigação de cada pessoa humana trabalhar e usar as suas capacidades para obter os meios financeiros para viver dignamente. E nisso dependemos uns dos outros e devemos agir com sentido de corresponsabilidade, solidariedade e ajuda mútua. Ninguém pode agir reta e honestamente sem pensar nos outros, no respeito por eles, na reciprocidade de direitos e deveres e no cuidado pelo bem comum. Por outro lado, cabe igualmente à sociedade organizar-se e dotar-se de leis que garantem aos cidadãos conseguirem os bens de que precisam para viverem humana e justamente nas devidas condições. Valorização do trabalho, justiça, solidariedade, sentido do bem comum, honestidade, respeito por direitos e deveres uns dos outros são alguns valores que devem reger a relação humana com o dinheiro. 

Os fiéis cristãos têm nos ensinamentos de Jesus Cristo iluminação e ajuda para se relacionarem sadia e solidariamente com o dinheiro. Jesus contou parábolas para advertir e ensinar os seus discípulos. São dele estas palavras: “Ninguém pode servir a dois senhores: ou não gostará de um deles e estimará o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e ao dinheiro” (Mt 6,24). O dinheiro deve servir-nos e não se tornar o nosso senhor ou patrão, como alertava o Papa Francisco. Nem tudo se compra nem se vende. É preciso moderação e sabedoria no modo de lidar com o dinheiro e não agir somente em função dos próprios interesses e ambições. Os fiéis cristãos deverão ter um sentido ético e social e empenho no bem comum no uso e investimento que fazem com o seu dinheiro ou com o que têm à sua responsabilidade.  

No combate à corrupção não bastam leis, vigilância e investigação. É preciso trabalhar a mentalidade das pessoas com boas práticas, adoção de valores e princípios éticos. E isto compete-nos a todos, sem prejuízo das responsabilidades de muitos outros nas missões que desempenham na sociedade. 

Padre Jorge Guarda 

16.7.2025