Quem adormece em Democracia, acorda em Ditadura 

Afonso Alves

«Quanto mais longe conseguirmos olhar para trás, mais longe veremos para a frente.» 
                           Winston Churchill (1874–1965), primeiro-ministro britânico e líder na Segunda Guerra Mundial. 

O passado está a cair no esquecimento, tanto para os mais novos como para os mais velhos e, com ele, cresce uma ideia perigosa: a de que o fascismo é apenas um capítulo encerrado da História, algo distante, perdido nos manuais escolares ou nos filmes a preto e branco. Mas, quem conhece bem a História sabe que o fascismo nunca desapareceu, apenas mudou de roupa. Segundo o alerta de Rob Riemen no livro intitulado «O Eterno Retorno do Fascismo» ele volta,  disfarçado, à espera de estarmos distraídos o suficiente para o deixar entrar. Quantas vezes terá a História de gritar para a ouvirmos? 

No século XX, a democracia, ainda débil e ferida pela Primeira Guerra Mundial, foi atacada por regimes fascistas que prometiam resgatar a ordem e a grandeza perdidas. Mussolini na Itália, Hitler na Alemanha, Salazar em Portugal: todos chegaram ao poder com promessas sedutoras de autoridade, identidade nacional e estabilidade. Mas será que devolveram o que prometeram? Não. Impuseram-se com o medo, perpetuaram-se com a ignorância. O resultado está escrito e estudado: milhões de mortos, censura, repressão, guerras, genocídio. Queremos mesmo repetir este caminho? 

Hoje, esse discurso regressa. Mais subtil, mais moderno, mas com a mesma essência. Já não se fala de «raça pura», fala-se de «identidade nacional». As expressões  mudam, as palavras adaptam-se ao tempo, mas o perigo é o mesmo. Os movimentos autoritários estão de volta, com roupa e linguagem nova, mas com os mesmos objetivos de sempre. 

Em Portugal e por toda a Europa, assistimos ao crescimento de partidos que alimentam este discurso. Muitos indivíduos, sem conhecerem o que foi o Estado Novo, o regime de Mussolini, o de Hitler ou os horrores da Segunda Guerra Mundial, são atraídos por ideias autoritárias conhecidas pelas soluções fáceis para problemas complexos. E isto é preocupante… é perigoso. Porque estas ideias, embora falsas, ganham força quando a memória desaparece. 

É verdade que a democracia não é perfeita. Tem falhas, contradições, maus momentos, mas o fascismo nunca foi solução, foi sempre uma tragédia! Esquecê-lo é meio caminho andado para o repetir. O desinteresse pela História é o terreno fértil onde nascem os erros de ontem e quando deixamos de olhar para trás, perdemos o rumo para o futuro. A educação é uma arma fundamental, mas também o é a responsabilidade individual. Cada um de nós tem um papel a desempenhar o de escutar, de questionar, de lembrar. A liberdade não se perde de um dia para o outro, vai-se perdendo aos poucos, em silêncios, em votos mal informados…. 

Concluindo, lembrar o passado é mais do que um dever,  é uma forma de proteger o futuro. A democracia não se mantém sozinha, exige atenção, participação e memória. Quando deixamos de questionar, de aprender e de resistir, abrimos caminho para que os erros do passado regressem, disfarçados. A liberdade perde-se devagar, no silêncio e na distração. Por isso, mais do que nunca, é preciso estar atento. Porque a História repete-se:  primeiro como aviso, depois como tragédia. E quando acordarmos, talvez já não seja possível voltar atrás.