ENTREVISTA: Daniel Ribeiro
Daniel Ribeiro, candidato do PS à Câmara Municipal de Ourém
Daniel Ribeiro é o candidato escolhido pelo Partido Socialista (PS) para disputar a presidência da Câmara Municipal de Ourém (CMO) nas próximas eleições autárquicas. Encarando esta pré-campanha como uma oportunidade para se apresentar à população, assume uma missão dupla: dar-se a conhecer enquanto figura política e afirmar uma alternativa num concelho onde o PS tem enfrentado dificuldades internas e onde a maioria PSD/CDS-PP governa com estabilidade.
Natural de Seiça, Daniel Ribeiro tem um percurso pouco convencional na política. Trabalhou no comércio tradicional, estudou mais tarde, e hoje exerce funções numa empresa privada com atividade internacional. Nunca ocupou cargos partidários, nem esteve envolvido em movimentos cívicos, mas garante que o desafio que agora assume nasce de um “sentido de missão” e da vontade de “fazer diferente, com propostas concretas”.
Nesta entrevista, fala das fragilidades do concelho — como a saúde, a habitação ou a mobilidade — mas também das suas potencialidades, do papel de Fátima no desenvolvimento turístico, e da necessidade de recuperar a confiança das freguesias. E rejeita liminarmente que a candidatura do PS sirva apenas para “marcar presença”.
CARLA PAIXÃO
Começámos esta conversa de forma informal, com o Daniel a referir que esta pré-campanha tem servido, sobretudo, para se dar a conhecer. Quem é, afinal, o Daniel Ribeiro?
Sim, a pré-campanha tem servido exatamente para isso: apresentar-me às pessoas. Apesar de ter raízes bem assentes em Ourém, de cá ter estudado, vivido e trabalhado, noto que há ainda quem não associe imediatamente o meu nome ao concelho. E é legítimo, porque estive sempre muito fora da política e da exposição pública.
Então, quer apresentar-se?
Sou natural de Seiça. Fiz a escola primária lá, depois vim para o ciclo e, mais tarde, segui para o ensino secundário aqui na secundária de Ourém. Quando terminei o 12º ano, ao contrário de muitos colegas, não fui logo para a universidade. Trabalhei durante 15 anos no comércio tradicional em Ourém, o que também me deu outra perspetiva do concelho e das suas necessidades. Só mais tarde decidi tirar um curso superior, em Gestão e Administração Bancária, no Instituto Politécnico de Tomar.
E hoje, o que faz profissionalmente?
Trabalho numa empresa sediada em Torres Novas que detém uma cadeia de supermercados em Angola. Já lá estou há quase 10 anos. Por motivos práticos, vivo atualmente no Entroncamento, mas continuo muito ligado a Ourém – tenho casa em Seiça e volto sempre que posso.
Nunca esteve ligado à política. Por que decidiu avançar agora como candidato à Câmara Municipal de Ourém?
Foi um desafio inesperado. Nunca pensei entrar na política, nunca estive envolvido em partidos ou associações, nem fiz parte de movimentos cívicos. Mas quando surgiu o convite e percebi que havia realmente uma dificuldade em encontrar alguém, senti que não podia ficar indiferente. Achei que poderia contribuir com uma nova visão. Assistimos a promessas, a oportunidades perdidas… E acredito que posso trazer uma perspetiva diferente, mais próxima das pessoas e menos dependente das lógicas partidárias tradicionais. Não é uma candidatura de protesto. É uma candidatura de complementaridade.
O que é que quer dizer com isso?
Quero dizer que não venho para “deitar abaixo”, não venho para dizer que foi tudo mal feito. Venho com espírito construtivo, com propostas de melhoria. Há muitas coisas que não foram resolvidas ao longo dos anos – problemas que se arrastam – e eu acredito que, se não foram resolvidos até agora, então está na altura de o fazer. Não venho com bandeiras de rutura, mas com uma vontade de fazer melhor e de fazer diferente. Acredito que ideias diferentes podem contribuir para criar soluções efetivas para problemas estruturantes.
Na apresentação da sua candidatura assumiu-se como uma pessoa de causas, com sentido de missão. Pode exemplificar?
Não tenho, de facto, um percurso associativo ou político que possa apresentar como exemplo prático. Essa missão é algo mais interior, é um compromisso que nasce da consciência cívica. Nunca fui um ativista visível, mas sempre estive atento. E agora, sinto que posso traduzir esse sentido de missão em ação concreta.
A candidatura do PS em Ourém demonstrou alguma instabilidade interna. O presidente da distrital, Hugo Costa, chegou a classificar Ourém como “o concelho mais difícil” para o partido nestas eleições. De que forma é que este contexto influenciou a campanha local?
Teve um impacto claro, sobretudo na mobilização das freguesias. A ausência de uma liderança definida a tempo acabou por desmotivar muitas pessoas. Houve dificuldade em formar listas – só conseguimos avançar com candidaturas em quatro freguesias: Seiça, Piedade, Olival e Cercal. E Fátima, que já vinha com uma coligação [PS/PAN] estabelecida. Acredito que, se o cabeça de lista tivesse sido definido mais cedo, o envolvimento nas freguesias teria sido maior. As pessoas precisam de acreditar num projeto, e para isso precisam de ver quem está à frente, precisam de perceber a linha programática. Quando não há rosto nem direção, é difícil reunir equipas.
(Entrevista completa na edição de 03/10/2025)