Entrevista: Marco Jacinto
Candidato da CDU à Câmara Municipal de Ourém
Marco Jacinto é o candidato da CDU à Câmara Municipal de Ourém nas Autárquicas 2025. Natural do concelho, é licenciado em Biologia Celular e Biotecnologia pela Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, tendo iniciado o seu percurso académico em Coimbra, com um bacharelato em Análises Clínicas e Saúde Pública. Pelo caminho, incentivado por amigos, fundou a Sociedade Portuguesa de Botânica. Profissional na área da saúde, trabalha atualmente em Lisboa, num laboratório de análises clínicas, na área da imuno-hematologia. Ainda assim, mantém uma forte ligação a Ourém. Nesta entrevista, fala sobre o seu percurso de vida, a experiência no serviço público e sobre as propostas que pretende levar à autarquia, sempre com os valores da justiça social, da sustentabilidade e da proximidade como referências. Reconhece que os indicadores apontam para que não seja eleito presidente de Câmara e afirma que “eleger um vereador seria uma grande vitória da CDU.”
CARLA PAIXÃO
Para quem ainda não o conhece, quem é o Marco Jacinto?
O Marco Jacinto é um homem comum.
O que é que isso quer dizer?
Ser um homem comum não é ser um homem vulgar. Ser um homem comum dá imenso trabalho e leva uma vida inteira a cumprir essa tarefa. Por mais que aprofunde tal ou tal qualidade, tal ou tal conhecimento, tal ou tal experiência ou iniciativa, não sou um colecionador de diferenças e sinto que toda a minha vida se baseia na essência do homem comum.
Por falar em essência. Que memórias tem da sua infância e juventude em Ourém?
As memórias mais antigas que tenho da minha infância serão aquelas duma idade próxima de entrar para a escola primária, talvez dois ou três anos antes, enfim, são memórias partilhadas coletivamente por aquela geração que aproveitava as circunstâncias para brincar, inventar e repetir as vivências comuns daquele meio. Andar aos ninhos, apanhar todo o tipo de bicharada, ter um largo onde nos batíamos todos os dias a jogar à bola, ao peão, ao pau, ao pum-pum, às escondidas e uma ou outra vez à pedrada.
Estudou sempre em Ourém?
Fiz o nono ano em Albergaria dos Doze e, até seguir para Coimbra, foi sempre em Ourém. Concluída a primária, na Amieira, segui para o Ciclo Preparatório – fui conhecer a Vila! Levávamos o horizonte do campo às costas e recordo com saudade as visitas aos moinhos, ao açude e aos castelos, uma trilogia fundamental na geografia da malta nova que estudava em Ourém. Ingresso na Escola Secundária e começo a trabalhar nas férias de Verão, algo que fiz sempre a partir dos 14 anos e até aos 21, quando acabei o curso de Análises Clínicas. O contacto com o mundo do trabalho assalariado começou numa serração de madeiras durante esse período de trabalho, nas férias, onde por vezes também gastei as da Páscoa e do Natal. Com exceção duma passagem efémera como servente de pedreiro, foi sempre numa fábrica de materiais de construção em Urqueira.
Como é que essas vivências moldaram a sua visão da política e da sociedade?
É difícil de resumir a relação dessas vivências com aquilo que vai sendo ainda hoje a transformação da minha visão política e da sociedade, que se vai modificando e aprofundando consoante as experiências, leituras e aprendizagens que vou tendo o longo da vida. As memórias mais fortes desse tempo acabo por revisitá-las muitas vezes olhando-as sobre outros ângulos e perspetivas. Guardo com admiração a imagem daquelas mulheres carreando luto e um feixe de erva à cabeça, descalças com a planta dos pés em sola sulcados por uma existência obstinada, persistente e meticulosa travando uma luta silenciosa pela subsistência. Em volta, os ciclos agrícolas que sempre se iniciavam na dureza do trabalho e se completavam na alegria das colheitas.
Podemos dizer que essa “admiração” se transformou em consciência política?
A consciência das condições em que as pessoas trabalhavam com afinco, com muito mais deveres que direitos, numa relação assimétrica com o poder de quem tem todos os meios, essa consciência política veio muito mais tarde, mas as raízes já vinham desse tempo.
Como é que a sua experiência na área da saúde influenciou a sua forma de ver o serviço público?
Todo o trabalho na administração pública implica objetivamente a garantia de direitos constitucionais dos portugueses. Estar numa rede de prestação de cuidados de saúde. atendendo à importância desse direito essencial e às circunstâncias da fragilidade das pessoas que requerem cuidados, exige uma abnegação e entrega de todos os intervenientes.
Apesar de trabalhar em Lisboa, mantém uma estreita ligação a Ourém. Como é que concilia essas duas realidades?
Concilio bem! Podia melhorar com mais tempo livre. A ligação é mantida não só pela família e amigos, mas também pelo apego a um território que tem muito para oferecer com uma grande riqueza natural e humana. Conheço razoavelmente o concelho de norte a sul, de leste a oeste, e continuo a surpreender-me, a maioria das vezes positivamente.
O que é que o motivou a aceitar, novamente, o desafio de ser candidato à presidência da CMO?
No essencial identifico-me com as propostas da CDU, que colocam os serviços públicos e a qualidade de vida das pessoas como prioridades fundamentais das políticas levadas a cabo pelos mandatos autárquicos.
(Entrevista completo na edição de 26/09/2025)