Calor de Verão
Editorial por JF
O debate e a indignação já levam décadas: os incêndios são uma tragédia.
Mudam os governos, ministros demitem-se e passam a pasta a outros, as maiorias e alinhamentos partidários na Assembleia da República testam diferentes equilíbrios, Câmaras Municipais mudam de mãos, mas, quanto a incêndios, parece que estamos sempre na casa de partida. As opções políticas muito mediatizadas de um ano acabam invariavelmente esquecidas no ano seguinte.
Recomeçamos incessantemente este debate e parece que não se avançou um único centímetro. Na verdade temos tido progressos importantes, mas que parecem sempre mínimos perante o desastre repetitivo.
Há décadas que os diagnósticos estão feitos: a manutenção da floresta, a distribuição de meios de combate, a importância da prevenção, o aumento das temperaturas por efeito das alterações climáticas, a criminalidade e os interesses económicos associados ao negócio do fogo, tudo já foi debatido e todas as ideias brilhantes já foram avançadas por comentadores “geniais” que as TVs conseguem ir desencantar sabe-se lá onde.
Não obstante, o problema persiste. Provavelmente porque é um problema complexo que não se compadece com soluções simplórias. Muita gente acha que tem a solução milagrosa: mais aviões, mais limpeza, mais bombeiros, outra estrutura de comando, um ministro diferente, uma ida ao terreno por parte do primeiro ministro.
A Grécia, Espanha, França e mais recentemente até alguns países mais a norte da Europa, para não falar no Canadá, Austrália, Brasil, Rússia, etc. vivem ciclicamente as mesmas angústias, com outros políticos, com outras políticas, com meios diferentes, com estratégias alternativas. Mas a Natureza é poderosa.
Infelizmente não há soluções milagrosas nem para este nem para muitos problemas complexos com que as sociedades são confrontadas.
E vai ser necessário continuar a trabalhar em todas as frentes, tanto a nível nacional como a nível internacional, conscientes de que é um trabalho sem fim. E conscientes de que quando se chega ao concreto, junto das pessoas que estão a perder os seus bens, todo o esforço que foi feito vai parecer insignificante.
Deixamos uma palavra de apoio aos bombeiros pelo seu trabalho incansável. E não nos deixamos impressionar quando um entre milhares desonra, a troco de benefícios pessoais, a farda que jurou respeitar.