A “Arte de Amar”

Carlos André recebe prémio literário

Nascido em Monte Real, Carlos André considera-se, também, oureense. Como o próprio diz, vinte anos depois de ter nascido na sua terra natal, voltou a nascer em Ourém, onde vive desde então.

Professor universitário em Portugal, tem sido também professor convidado em vários países da Europa e fora dela. Carlos André é autor de livros e de inúmeros artigos em revistas, especialmente no âmbito dos estudos clássicos e renascentistas E foi mesmo cronista do Notícias de Ourém, onde começou a escrever ainda na sua adolescência.

É como escritor que acaba de receber um importante prémio da literatura portuguesa, o prémio D. Diniz, razão mais que bastante para conversarmos um pouco sobre este livro, uma tradução da Arte de Amar, de Ovídeo.

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“Obviamente que me sinto muito honrado”, começa por nos dizer o Professor, “porque o prémio é um dos prémios de grande prestígio em Portugal”. Não se tratando do prémio Camões ou Pessoa, como refere, trata-se de uma distinção já atribuída a grandes autores portugueses. Humildemente, Carlos André afirma que “há de facto nomes ilustríssimos que receberam este prémio. Eu não sou nada ao pé desses nomes”.

Por outro lado, “mais me honra o facto de o prémio, que é um prémio literário ter sido dado a uma tradução, o que não é muito frequente. Considerar uma tradução para este prémio significa, da parte do júri, ainda por cima constituído por escritores, o reconhecimento da tradução também como uma forma de fazer literatura”. É o próprio júri a afirmar que esta tradução “honra a literatura portuguesa”.

Carlos André recorda outra tradução do mesmo livro, que fez anteriormente e que, comparando com a atual, “não é do dia para a noite, mas não anda longe”. Isto porque “comecei a traduzir outra vez a partir do zero. Obviamente, tinha em consideração a tradução anterior, mas não há quase nenhuma página sem uma nova tradução”. Explica-nos o porquê deste trabalho todo feito de novo: “eu tenho um princípio: uma grande obra literária é eterna. A Eneida é eterna, a Arte de Amar também é eterna. Fez o seu sucesso ao longo dos séculos e vai continuar a fazer”. Mas “a tradução não é, a tradução é efémera”. Ela “tem que ser uma solução de compromisso entre o texto original e os seus destinatários, que são leitores atuais”. Ora, “entre o texto original da Arte de Amar e os leitores desta tradução estão dois mil anos” e a tradução tem que ter isso em consideração, respeitando o texto original. O autor confessa que “essa é a parte mais difícil; sem trair o texto original, fazer uma coisa que o leitor atual, que é dois mil anos mais novo, considere uma obra literária, tendo em conta o contexto social em que vivemos”.

E porque ao ler um livro é preciso senti-lo, Carlos André diz que é preciso ter em conta “a cultura atual, a conceção estética e a linguagem atuais”. Sabe que “tudo isto se altera daqui a

30 anos. Ou seja, estamos em 2025, em 2050 as pessoas já não falam assim, já não entendem a estética da mesma forma. Há palavras que têm valia estética nesta tradução que, entretanto, se tornaram prosaicas e deixam de ter essa valia”.

(Texto na íntegra no jornal Notícias de Ourém de 1 de Agosto de 2025)