Espite: da emigração à imigração
Relatos de uma época: os portugueses em França
Foram tempos duros quando, por volta da segunda metade do século passado, muitas gentes do concelho de Ourém partiram para França, apenas em busca de uma vida melhor ou para fugirem à guerra do Ultramar, que não entendiam. Procuravam um futuro que o próprio país lhe negava. A grande maioria ia de forma clandestina, “a salto” como se dizia, enfrentando perigos vários. Chegados, vivam em bairros de lata sem condições, os chamados “bidonville”. Eram, na maioria, homens que deixavam para trás as famílias na esperança de, um dia, os poderem ter com eles. Nesses bairros, onde as estradas eram de lama e as grandes fogueiras os aqueciam nos invernos frios a que não estavam habituados, iam-se juntando.
Aos poucos foram-se impondo, com a força do seu trabalho, a sua humildade, a sua vontade.
Foi disto e de muito mais, de algumas experiências passadas, que se falou, no sábado passado, em Espite, num encontro que juntou o historiador Vítor Pereira e a antropóloga Ana Saraiva com moradores de Espite que enriqueceram o encontro com testemunhos na primeira pessoa, sobre esse passado seu ou dos seus pais.
Vítor Pereira começou por fazer o enquadramento histórico da emigração para França que terá começado aquando da Primeira Guerra Mundial, a guerra das Trincheiras. À época “foi precisa mão-de-obra e a França vai buscá-la um pouco por todo o mundo”, também a Portugal. Com a crise e o desemprego de 1929, cerca de metade dos portugueses, tal como outros povos, são expulsos.