A pressa e a sabedoria: Atena em tempos acelerados 

Ana Freire

Vivemos demasiado depressa. Ninguém espera, ninguém abranda… 

Acordamos com o despertador a gritar connosco, corremos para o trabalho. Respondemos a mensagens enquanto pensamos em mil e uma coisas. Tomamos decisões num piscar de olhos, numa correria que parece deixar para trás a sabedoria. 

Nos tempos antigos, dizia-se que a sabedoria era um dom sagrado, uma dádiva reservada aos deuses e aos poucos humanos capazes de escutar o silêncio e contemplar a profundidade da existência. Hoje, num mundo de ruídos incessantes, de respostas rápidas e decisões instantâneas, a sabedoria parece ter ficado para trás. 

Vivemos tempos em que tudo se move depressa, numa corrida contra o tempo. As horas voam e o amanhã já é tarde demais. O mundo não espera. Não há tempo para refletir antes de agir. Somos pressionados a tomar decisões rápidas. Somos levados por um turbilhão de exigências que não nos permite parar, respirar, ponderar, sentir. No íntimo, sabemos que “a pressa é inimiga da perfeição”, mas tudo à nossa volta grita: “Vai, agora! Já!” É como se o mundo tivesse perdido a paciência com a própria vida. Tornámo-nos reféns da velocidade, esquecendo que a clareza nasce na quietude. 

Atena, deusa da sabedoria na mitologia grega, filha de Zeus e de Métis, jamais tomaria uma decisão apressada, não cederia ao caos. Atena sabe que a sabedoria é filha da calma, da busca pela clareza, da reflexão cuidadosa antes de agir, do equilíbrio e das ações ponderadas. Mas… onde está o tempo, o espaço para respirar antes de decidir? Parece que já não nos pertence… 

Curioso como até a ciência nos diz algo semelhante. Newton (1643-1727), brilhante matemático, físico, astrónomo e teólogo) explica-nos, na sua Primeira Lei, que um corpo em equilíbrio tem tendência a manter esse estado — seja em movimento ou em repouso — até que uma força externa o altere. Na vida, estas forças invisíveis, como os prazos apertados, as notificações constantes ou a sensação de que tudo é para ontem, empurram-nos para decisões rápidas, sem pausa nem reflexão, alterando o nosso equilíbrio! Somos guiados mais pela pressa do que pela razão. Reagimos em vez de refletir. Respondemos antes de escutar. Tornamo-nos corpos em movimento descontrolado, partículas agitadas sem rumo definido, reagindo ao impacto da vida, sem nos darmos conta da direção que tomamos. Mas a física ensina-nos: é necessário voltar ao equilíbrio. Precisamos de pausas, de tempo para pensar e tomar decisões, tal como os átomos precisam de tempo para se reorganizarem antes de se ajustarem a um novo estado. 

O desafio não é apenas sobreviver ao caos e à incerteza, mas aprender a escutar a nossa própria voz no meio da entropia. 

Atena não se apressaria. Ela sabia que a verdadeira sabedoria está na calma da mente, na reflexão antes da ação. Precisamos de desacelerar, cultivar a paciência para compreendermos o que realmente importa. 

Por vezes, parar é o gesto mais sábio de todos.