Pré-história
Alvaiázere, Ferreira do Zêzere e Ourém!
O tempo de Covide permitiu caminhadas nos concelhos de Ansião e seus limítrofes.
Graças à paixão pelo passado e ao olhar peculiar, após dissecar muitos estudos, permitiu interpretar no terreno palcos das ações humanas por escavar. Seria motivador o despertar dos interesses das Terras de Sicó e CCDR Centro, agora mais informados, no dever de apoiar financeiramente a investigação arqueológica em Alvaiázere, julgo já lhes ter sido disponibilizado parte de um espaço físico para montar o laboratório de campo, e seria conveniente continuar a investir no desenvolvimento das pesquisas que começaram a braços do Instituto Politécnico de Tomar há cerca de 25 anos, arrancando de vez da letargia, no sentido de valorizar o manancial cultural da pré-história, época romana, medieval e das quintas, a juntar à projeção turística!
O Congresso de História e Património da Alta Estremadura e Terras de Sicó decorreu em Alvaiázere em 2019, a pasmo – deixou cair a designação Alta Estremadura, para solidificar Terras de Sicó nos concelhos: Alvaiázere, Ansião, Penela, Soure, Pombal e Condeixa, sem aclamar Ferreira do Zêzere, Ourém e Tomar – desconheço vetores de inclusão e exclusão – sendo muito mais o que os une desde a pré-história de Condeixa a Tomar – ou seja de Sicó à Alta Estremadura, de tudo o que os separa – já erro, é dividir o que sempre esteve unido!
Há anos tomei conhecimento da notícia na internet do corte de eucaliptos pondo a descoberto monumentos fúnebres, a culminar em 2007, na tese de doutoramento da Dra. Alexandra Figueiredo. Pioneira ao enfoque da entrada de povos na pré-história, a sul de Alvaiázere e Ferreira do Zêzere – no terreno, deslindei também a Ourém. Graças aos testemunhos na toponímia; Vale das Antas, em Rio de Couros; Antas, nos Ramalhais, em Pombal e o Foral de Soure, nas Antas do Fárrio. João Alvim, em 1961, na Monografia de Ourém, aborda a grande mole “Mesa dos Ladrões” em Chão de Maças. Antas e dólmens são heranças trazidas pelos povos dos mares: Mediterrâneo, Norte, Báltico e da Escandinávia, aportados ao porto abrigado de Alfeizerão, com rumo à supremacia dos recursos alimentícios dos vales férteis da Alta Estremadura; Ourém e Murta, com frutos e cereais, aliada às fontes de pescaria; rio Nabão e fonte das Bogas em Ourém, laguna de Maré em Avecasta, a do Barqueiro e ribeira d’Alge em Alvaiázere, e o rio Zêzere. Abundância de caça, ainda hoje brinda Alvaiázere, na primeira razão à escolha desta região. Seguida no Calcolítico a descoberta do cobre, presente nos monumentos megalíticos de Rego da Murta e na Gruta de Ave Casta, em Ferreira do Zêzere. Com o ferro e ouro, outra razão que os atraiu na certeza de reforçar a importância deste território para essas comunidades, e se espelha no estudo de 2016, da Dra. Raquel Vilaça; “o vasto território de Alvaiázere com distintos complexos de povoados/depósitos metálicos, numa relação hierárquica tendo por vértice o Castro, com habitats e outros, revelando a sua estreita ligação a rotas naturais de circulação, nos finais da Idade do Bronze já era detentor de um sistema organizacional como no controlo. Com eles coincide a distribuição dos depósitos, e de índole habitacional, funerária e cultural (…) Alexandra Figueiredo, em 2006, assume que os espólios pré-históricos provenientes de Rego da Murta, em Alvaiázere, possuem semelhanças e conexões com a Beira Alta, Estremadura e Alentejo, evidenciando uma sociedade interconectada e em rede (…). Esta aferição é replicada em diversos artigos da autora, incluindo no livro publicado em 2021, sobre as Primeiras Arquiteturas em Pedra no Centro de Portugal: o Caso do Complexo Megalítico de Rego da Murta. A mesma autora expõe que a velha Estrada Coimbrã mais não é do que a repetição de traçados de origem milenar, que a nosso ver, o brilho dos metais há muito havia iluminado. Seguida nos milénios seguintes pela ocupação romana atestada nos fornos portáteis de fundição – aula ao vivo na gruta pelos Drs., José Mateus e Paula Queiroz. A exploração da Gruta do Bacelinho, a mineração de ferro e escórias, em Rio de Couros, Ourém. A prospeção aurífera foi relevante em Alvaiázere, Ferreira do Zêzere e Tomar pelos relatos; do prior Pedroza de Pelmá em 1758; dizem os naturais que o monte tem minas abundantíssimas de ouro; nas inundações das chuvas, o trazem arrojado aos vales e barrocas; na ambição a descobri-lo com bandejas, de que tirão não pequeno lucro aqueles, que por ofício se ocupam em semelhante ministério. Salete da Ponte, em 1995, nas Achegas à Carta Arqueológica de Tomar; minas de ouro e ocorrências auríferas no Casal do Mato, ribeira de Algaz, Fonte de S. João, margens do Nabão, e Porto da Lage, Poço Redondo na Junceira, e em Cepos, aludem à presença deste metal. E, Minas de prata, na freguesia da Madalena. O Livro à Descoberta de Portugal, Seleções do Reader´s Digest de 1982, sobre o castro de Formigais, romanizado; “de encantos ancestrais em subterrâneos plenos de miríficas riquezas, alvo da cobiça de grande número de pesquisadores, que, muito frequentemente, parecem munidos do Livro de S. Cipriano, manual muito difundido entre caçadores de tesouros e aprendizes de feiticeiro.” Urje projeção turística o tesouro de Penela que Vieira Guimarães, em 1984, diz ser insustentável, a origem fenícia do bracelete de ouro; tudo nos prova que saiu duma fábrica indígena. E, o descrito pelo padre Luís Cardoso no Diccionario Geografico sobre “Alvayazere” um “argolão de ouro”, achado ao acaso em lavras. Tesouros em terras alheias têm de voltar às origens, para os seus Museus!
Admito o ouro terá proporcionado trocas comerciais com fenícios, já que ainda não foram encontrados fornos de fundição deste metal.
Fortes recursos a permitir uma fixação cada vez maior até à Época Clássica, aberta estrategicamente na pré – história à expansão no centro do País, em dois pontos de ocasião de passagem pela serrania na interligação da centralidade reunida em Ourém, vinda do porto de Alfeizerão, Collipo, Conímbriga, Abiul e Ansião, à centralidade reunida a nascente, a sul de Alvaiázere e Ferreira do Zêzere vinda do Alentejo, Beiras, Espanha e Levante. Cujos corredores foram sentidos no terreno e coligidos na Bula do Papa Adriano IV “Justis Potentium Sideriis” dirigida à Ordem do Templo, lavrada em Fevereiro de 1159 (…) a linha imaginária que partindo do Rio Zêzere para Leste-Oeste na direção de Murta a cerca de seis quilómetros a Norte de Ceras prosseguia para Freixianda e daqui para o Sul e Sul-Sudoeste alcançava inicialmente um Vau no médio curso do Rio Nabão, então denominado como Rio Tomar que permitia a passagem daquele trecho do Rio na antiga Estrada romana que se estendia de Santarém a Coimbra e outro Vau, na Ribeira de Ourém. Em 2022, numa caminhada em Almogadel, em pleno corredor da via militar – o que admito, deslindei o ramal do Vau, para poente ainda guarda troço de calçada com lajes em riste, seguia à ponte da Quebrada do Meio, Quebrada de Baixo e Formigais – permitiu ligar Castros e a Gruta de Ave Casta. O Vau, a norte, à imediação de Formigais, por Pelmá, com derivação antes de Marques com uma via pelo ramal de Relvas, indo ambas embocar a sul de Alvaiázere.
Por fim outra razão de escolha desta região foi a prática a cultos pagãos.
Chamei arqueossítio ao contexto catalogado da laje de pegadas de dinossauros e cerâmica da pré-história, com um outro por explorar, avistado no seu tardoz na caminhada de 2023, composto de monólito fincado a fecho da vinha que entesta a laje de pegadas, seguido de um cenário jus a elipse, com outros fincados, pontiagudos, um deles aparenta arte rupestre, entre demais retangulares deitados, a fecho noutro alto e esguio ao lado de outro prostrado, inserido num improvisado parque de merendas, à toa semeado a cedros, sem interpretação, nem estudo, que se ilustra na foto – presume um monumento megalítico da pré-história ao culto do sol, ciclos da mãe natureza, veneração de deuses, ou um Cromeleque, parente de Almendres, no Alentejo? De saída deparei num caminho ornado a pedras megalíticas, presumem removidas por máquina – alegam desmantelamento de alguma estrutura, ou dólmen? Na envolvente quer a nascente quer e a poente, há morouços de grandes pedras, quando em Ansião são pequenos de cascalho, e em Chãos, Ferreira do Zêzere, jus a muralha. Como o parque de merendas da Mata do Carrascal apresenta em seu redor pedra solta, amálgama com energia mística – quiçá outro sítio da pré-história. A olho nu, parece coincidir alinhamento com o Solstício de Verão ao cenário antes descrito. Ser ou não ser? Remeto estas considerações ao elevar Aristóteles “ A dúvida é o princípio da sabedoria “.
É clara a exigência de um trabalho de investigação e a declaração de interesse patrimonial, onde mencionou em conversa informal, a Dra. Alexandra Figueiredo, a referência de se encontrar no solo vestígios de ocupação pré-histórica, sendo que dista escassos metros do complexo fúnebre das antas I e II, do Rego da Murta, também conhecidas por Ramalhal, premissa que me imbuiu avançar!
Tanto para contar este nosso território. Tanto ainda por descobrir!
É preciso Acordar, senhores autarcas para esta realidade, e avançar!
Isabel Valente Coimbra