Entrevista: Professor Manuel Pires Bento, Diretor Pedagógico do Centro de Estudos de Fátima 

A Escola para Além dos Rankings 

Nos últimos anos, os rankings escolares tornaram-se presença habitual na comunicação social, frequentemente apresentados como indicadores objetivos da qualidade do ensino. Contudo, esta leitura simplificada “ignora a complexidade do trabalho desenvolvido nas escolas e tende a reduzir a avaliação do desempenho educativo aos resultados obtidos nos exames nacionais”. O foco exclusivo nestes dados alimenta a ilusão de que os rankings são um reflexo fiel da qualidade pedagógica, quando, na verdade, “negligenciam fatores fundamentais como o contexto socioeconómico dos alunos, os recursos disponíveis, ou a diversidade de percursos formativos”. Para aprofundar esta discussão e refletir sobre os desafios das escolas e da Educação na sociedade contemporânea, entrevistámos o professor Manuel Pires Bento, diretor pedagógico do Centro de Estudos de Fátima (CEF). Mediante os critérios considerados, nos rankings divulgados recentemente, referentes ao ano letivo de 2023/ 2024, o CEF ocupa o primeiro ou segundo lugar no distrito de Santarém.  

Por, CARLA PAIXÃO 

Começando pelo tema dos rankings escolares — qual é a sua visão sobre a forma como são elaborados e divulgados? 

Os rankings escolares são construídos a partir de dados enviados pelo Ministério da Educação para a Comunicação Social. No entanto, cada um trata esses dados de forma diferente. Por exemplo, há meios que consideram apenas quatro disciplinas, enquanto a maioria trabalha com oito. Alguns excluem os alunos do ensino profissional, enquanto outros, incluem todos os estudantes. Isso cria uma grande variação nos resultados, portanto, a posição das escolas nos rankings pode mudar bastante dependendo dos critérios adotados. A mesma escola pode aparecer num lugar muito elevado num ranking e muito abaixo noutro — apenas porque os critérios mudaram. 

É o que acontece no caso do CEF? 

Sim. No caso do CEF, esta questão tem um impacto direto. Temos alunos nos cursos científico-humanísticos e no ensino profissional. Quando se excluem os alunos dos cursos profissionais — como faz, por exemplo, o jornal Expresso —, os rankings favorecem escolas com um perfil muito específico de alunos. Já quando todos os estudantes são incluídos, o panorama muda. Veja-se o caso do Colégio de São Miguel, aqui em Fátima. Em alguns rankings aparece em primeiro lugar no distrito de Santarém, e noutros, como o da Renascença, surge em 17.º. Isso acontece porque a Renascença inclui todos os alunos, o que altera completamente o cenário.