Começam as aulas 

Arranca um novo ano letivo, com os sentimentos cruzados de sempre.  

Os alunos sentem o entusiasmo do reencontro e da descoberta dos novos professores, novos horários, para alguns até novas escolas. Mas ao mesmo tempo fica aquela angústia de deixar o ritmo de férias, a despreocupação e o tempo de aventuras.  

Os profissionais de educação, a começar pelos professores, psicólogos, técnicos e todo o pessoal auxiliar, dentro e fora das escolas vivem ao mesmo ritmo dos recomeços, para ter tudo pronto a horas e começar em pleno a tarefa. Muitos professores este ano mudaram de escola e, por isso, sentem esse entusiasmo das coisas novas. 

A autarquia, as direções e os pais desdobram-se em iniciativas para ter todo o sistema a funcionar, sem deixar de lado nenhum pormenor: dos transportes às refeições, dos livros ao material escolar, dos computadores a funcionar à organização de tempos livres. 

As escolas não são simplesmente aulas e testes. E não é só o aspeto profissional que conta. Seguramente em toda esta movimentação é muito relevante a dimensão de comunidade humana, as relações pessoais que estão na base dos preparativos. Além de aulas, há toda uma vida, porque uma escola é uma aldeia inteira a funcionar. 

Mas o ponto central é o ensino, evidentemente. E este ano letivo arranca com algumas nuvens negras no horizonte, relacionadas com a crescente falta de professores. Ourém não está (ainda) na zona mais crítica do país, como Lisboa e os territórios a sul do Tejo, onde muitas centenas de horários completos ficaram sem candidatos. Mas ainda assim, também em Ourém começa a ser complicado encontrar docentes para alguns horários, logo no arranque das aulas. Significa que muitos alunos vão começar sem professor a algumas disciplinas e sem perspetivas seguras de conseguir assegurar o lugar. 

Quando há alguns anos certos tecnocratas defendiam que se deveria reduzir o peso do estado, diminuir o número de funcionários, era previsível que uma década ou duas mais tarde se começaria a colher os frutos destas teorias. Devem estar felizes agora, sem professores (e sem médicos, e sem polícias, ou guardas prisionais). 

Fica evidente como é necessário ultrapassar essa mentalidade e investir muito mais nos setores essenciais ao funcionamento da sociedade. 

Hoje já faz parte do discurso normal dizer que é necessário atrair jovens para a profissão de professor. Mas isso requer muito mais do que intenções. Quando há mais de trinta anos comecei eu mesmo a carreira, as perspetivas de valorização profissional e social eram boas. Era interessante ingressar numa carreira prestigiada, razoavelmente bem paga, estável e com boas condições de trabalho. Muitos jovens da minha geração tinham interesse em vir para o ensino. Mas as transformações sucessivas, com muito mais burocracia nas escolas, métodos de trabalho mais fastidiosos, degradação dos salários em relação a outras profissões, falta de condições de segurança, ambientes escolares muito indisciplinados e até violentos, levaram a que, atualmente, entre os nossos alunos muito poucos se imaginam a dar aulas. 

Mas há que ter esperança no futuro. Afinal este é um momento de recomeço e temos oportunidade de fazer tudo melhor desta vez. 

JF