Entrevista ao padre Jorge Guarda 

Esta transformação decorre de uma visão da Igreja em que todos os fiéis são sujeitos de pleno direito da sua vida e missão no mundo” 

1. Com a implementação da Unidade Pastoral de Ourém, quatro paróquias são confiadas a três sacerdotes e a três presbíteros eméritos. Que mudanças traz no serviço pastoral de que os fiéis se vão aperceber? (celebrações/ catequese/conselhos económicos/cartório…) 

Na passada semana, o Senhor Bispo publicou um comunicado em que, inserido na transformação sinodal e reorganização pastoral da Diocese de Leiria-Fátima, anuncia o projeto de constituição de 17 unidade pastorais em toda Diocese e, para já, a criação da Unidade Pastoral de Ourém, constituída pelas paróquias de Alburitel, Nossa Senhora das Misericórdias, Nossa Senhora da Piedade e Seiça. Afirma que a paróquia continua a ser “a comunidade básica de referência”, pois “é nela que nascemos como filhos e filhas de Deus pelo batismo e nos tornamos irmãos e irmãs na Igreja. É também nela que nos empenhamos ativamente na vida e missão da comunidade, tornando-nos corresponsáveis na sua organização e no serviço aos outros”.  Quanto à Unidade Pastoral (UP), define-a “um agrupamento de paróquias servidas e coordenadas por uma Equipa Presbiteral, formada por dois ou três sacerdotes, um dos quais é Moderador e coordena o trabalho em comum, em que todos são corresponsáveis pelo conjunto das paróquias. Também os leigos e religiosos de cada paróquia são convidados a envolver-se neste trabalho comum da sua UP, a partir dos ministérios e serviços que desempenham nas próprias comunidades: nos Conselhos Pastorais e Económicos, na Liturgia, na Catequese, na Pastoral Juvenil e Vocacional, na Pastoral Social em favor dos que mais precisam, etc. Assim, em comunhão com a Equipa Presbiteral, poderemos servir melhor a vida e a missão da Igreja.” 

Quanto a esta “Unidade Pastoral de Ourém”, ainda é cedo para prever as implicações e as consequentes mudanças nos serviços pastorais. Podemos desde já prever somente a realização de iniciativas e serviços comuns às várias paróquias. Devo referir que estas mudanças correspondem a uma visão da Igreja em que todos os fiéis cristãos deverão ser sujeitos corresponsáveis, e não apenas beneficiários, da vida e missão da mesma. 

2. Mantém-se a vigararia de Ourém tal como a conhecíamos? 

No projeto anunciado pelo Senhor Bispo, mantem-se inalterável a vigararia de Ourém, com as suas 14 paróquias. Esta serão reorganizadas em 3 unidades pastorais: a de Ourém, a de Caxarias, com esta paróquia e as do Cercal, Gondemaria, Olival e Urqueira, e a da Freixianda, constituída por esta paróquia e pelas de Casal dos Bernardos, Formigais, Ribeira do Fárrio e Rio de Couros. As competências serão depois articuladas entre a vigararia e as unidades pastorais que a constituem.  

3. O decreto de nomeação da equipa presbiteral e respetivo moderador só será comunicado pelo Sr. bispo em setembro. Até lá, que trabalho está já a ser desenvolvido, não só de organização interna, como de informação/comunicação às paróquias? 

Na sequência do processo sinodal e de discernimento anteriormente feito que já envolveu muitas pessoas dos organismos paroquiais, estamos a começar a fazer a comunicação deste novo passo. Temos, entretanto, já fixada, ainda para este mês, uma reunião para começar a trabalhar no projeto. Só depois se organizarão reuniões de esclarecimento para os colaboradores e fiéis das paróquias. 

4. Qual o papel dos leigos nesta transformação?  

Como disse antes, esta transformação decorre de uma visão da Igreja em que todos fiéis cristãos, porque batizados, crismados e membros do inteiro povo de Deus, são sujeitos de pleno direito da sua vida e missão no mundo. Isto começou a desenvolver-se após o Concílio Vaticano II, com o envolvimento crescente dos fiéis leigos na catequese, na liturgia, nos serviços sócio caritativos, na missão e no testemunho do Evangelho na família e na sociedade. Daí surgiram novos ministérios, como o de catequista ou de distribuir e levar a comunhão aos doentes, realização de celebrações dominicais na ausência de padres ou mesmo de funerais, em algumas dioceses. Isto para falar só de Portugal. Os leigos, em estreita colaboração e juntos com os padres, têm um papel fundamental neste processo, tanto no discernimento das soluções para os serviços pastorais e do caminho a percorrer pelas comunidades como no assumir de variados serviços para o bem das mesmas em diferentes âmbitos. Só com esta colaboração ativa e criativa, as comunidades poderão crescer e tornar-se mais atrativas no testemunho do Evangelho. Tenha-se presente, por outro lado, que vamos sentir cada vez mais a escassez de sacerdotes e de outros ministros ordenados, pelo que os serviços têm que se reorganizar e otimizar. Juntos podemos fazer melhor. 

Padre Jorge Guarda 

Ourém, 17.08.2024