Ensino de Português a estrangeiros
“Somos todos imigrantes / Ninguém tem morada fixa nesta terra” (Papa Francisco)
Se continua a fazer sentido falar de emigrantes, no concelho de Ourém, de onde, um dia, muitos partiram em busca de uma vida melhor, hoje há uma nova realidade que nos obriga a pensar e falar, também, em imigrantes, aqueles que para cá vieram, em busca da mesma ‘vida melhor’ que os nossos buscaram um dia noutras paragens.
O Noticias de Ourém foi falar com João Vaz, professor que nos últimos anos tem leccionado português para estrangeiros, para tentar perceber como se desenrola a formação e como a recebem os formandos.
Notícias de Ourém (NO) – É muito diferente leccionar português para nacionais que para estrangeiros?
João Vaz (JV) – Sim, é muito diferente. Temos de perceber que os formandos que chegam a estes cursos são oriundos de sociedades diferentes da nossa.
Alguns são de mundos culturais, filosóficos e religiosos completamente diferentes. Então, para conseguirmos criar as condições de trabalho temos de perceber minimamente os seus mundos de origem. Na mesma sala temos pessoas que não comem porco, outras que não comem vaca; umas que são monoteístas, outras politeístas; umas em que é normal viver toda a família alargada (pais, filhos, avós, tios, …) na mesma habitação, outras que defendem a emancipação total dos jovens logo que atinjam a maioridade. Por outro lado, no ensino de português para nacionais, todos têm, no mínimo, alguma capacidade para descodificar a língua falada. No ensino de português para falantes de outras línguas os formandos não têm essa base de conhecimento da língua nem, por vezes, da cultura e da sociedade portuguesas. Sempre que começa um novo curso é um mundo novo quer para os formandos quer para os formadores.
NO – Quais as nacionalidades que mais se evidenciam nesses cursos?
JV – Nos cursos de Português Língua de Acolhimento (português para estrangeiros não falantes da língua portuguesa) destacam-se os indianos e os estrangeiros provenientes da América Latina. Mas existem estrangeiros provenientes do norte de África (Marrocos, Argélia, …), da Ásia (Paquistão, Nepal, Coreia do Sul, …) e da Europa de Leste (nomeadamente da Ucrânia).