50 anos do “25 de abril”
A importância da imprensa local como fonte para a pesquisa histórica
A imprensa local e regional é efetivamente um importante veículo de proximidade com os cidadãos. Folheando os arquivos dos jornais locais, constatamos as preocupações e anseios de uma determinada comunidade, os acontecimentos, festividades, tradições e outros assuntos explanados ao longo de várias décadas. Essas matérias, possivelmente, não seriam trazidas “à luz do dia” pela imprensa nacional, perdendo-se assim importantes registos para memória futura, penalizando-se a história da comunidade. É o “seu” jornal que dá notícias das realidades que lhe estão próximas, que lhes emocionam e nelas se reveem.
A imprensa local é também uma importante fonte de pesquisa para a história. Aliás, encontra-se disseminada nos ambientes de trabalho das ciências sociais e humanas.
Comemorando-se presentemente os “50 Anos do 25 de Abril”, fomos aos arquivos de dois importantes jornais locais do concelho: o semanário “Notícias de Ourém” e o quinzenário “Ourém e o seu Concelho”. Relativamente este último jornal, já extinto, o respetivo arquivo encontra-se disponível na Biblioteca Municipal de Ourém, graças à família do seu proprietário e diretor, José Rodrigues de Melo, que gentilmente o doou para estar acessível à comunidade. Como foi dada a notícia da revolução de 25 de Abril na imprensa local da então Vila Nova de Ourém (VNO)? Houve manifestações? Há fotografias? Como foi vivido o 1.º de Maio de 1974? Terão existido distúrbios? Quem foram os “atores” e quais os principais palcos em VNO? Quais os destaques dados?
É fascinante observarmos que numa só publicação se reúnem, além do texto, imagens, técnicas e visões. O formato, o tipo de letra, linguagem, ilustração, tiragem, propaganda, iconografias, mostram historicidade.
Abrindo um pouco o leque da análise da cobertura efetuada pelos jornais oureenses sobre os acontecimentos revolucionários de 74, encontramos transcrições dos discursos feitos na varanda dos Paços do Concelho no 1.º de Maio, perante uma multidão de pessoas que ali afluíram para celebrar a liberdade. Foram dez as pessoas que tomaram a palavra, mas nem todos os seus discursos foram transcritos ou relatados, perdendo-se estes, talvez, para sempre. Até à presente data, não se encontraram ainda outros suportes de registo. Descendentes dos já falecidos que ali discursaram, e até os ainda vivos, não conservaram as folhas lidas nesse memorável dia. Alguns deles falaram de improviso, transmitindo de forma natural os seus sentimentos. Outros conservaram apenas as fotografias tiradas por familiares e sobretudo pelos fotógrafos Manuel Gonçalves, António Tomás e até de José de Melo do jornal “Ourém e o seu Concelho”.
Não fosse a imprensa local a registar os discursos de tão importante e significativa data a que muitos assistiram, restavam-nos, possivelmente, apenas frases ou palavras soltas retidas na memória dalguns e que as partilham ainda hoje connosco, sujeitas a distorções e menos fidedignas.
Ao lado deste texto, encontra-se um excerto do artigo do jornal “Notícias de Ourém” (4-05-1974) sobre a Manifestação do 1.º de Maio, estando este ilustrado com uma flor peculiar. Quem terá sido o(a) autor(a)? Existirá ainda o original? Que bom seria expô-lo e conhecer o(a) “artista”. Até à data ainda não descobrimos nos arquivos, nem através de outras fontes. Esta flor é da autoria do(a) leitor(a) que está a ler-nos neste momento? É seu familiar, conhecido(a) ou amigo(a)? Se souber alguma informação do seu paradeiro, entre em contato com a redação. Muito obrigado e Viva (Sempre) Abril!
Gonçalo Cardoso